Ao revisitar o percurso histórico das últimas décadas no Brasil, inevitavelmente voltamos o olhar para uma geração que sonhou e lutou por utopias. A geração da utopia, composta em sua maioria por jovens estudantes e trabalhadores, carregava em seus corações uma força motriz que transcendia as lutas individuais, buscando transformar a sociedade em nome da liberdade e da justiça. Inspirados por uma democracia idealizada, esses jovens, forjados na militância política contra o regime militar, enfrentaram a repressão e escreveram seus nomes na história do país.
Essa geração, cujos sonhos coletivos muitas vezes desafiavam as próprias raízes de classe, encontrava-se em residências estudantis ou nas ruas das grandes metrópoles, em meio a ideais políticos e sociais divergentes da elite a que pertenciam. É como se uma chama ardente dentro de cada um deles se recusasse a se conformar com a realidade imposta, alimentada pela utopia de uma nação livre e equitativa.
Atravessar o tempo para olhar essas memórias nos leva a uma reflexão profunda sobre o que se perdeu no caminho. A música do compositor cearense, que nos fala das esperanças e dores de uma geração, poderia muito bem servir como trilha sonora desse filme histórico. Ao som dessas canções, a memória coletiva vai sendo resgatada, como se um velho álbum de fotografias fosse folheado lentamente, trazendo à tona os rostos, as lutas e os sonhos que outrora alimentaram um projeto de país.
No entanto, ao olharmos para o presente, percebemos que essa geração, que lutou o bom combate, está se despedindo. Os líderes estudantis, os militantes operários, todos aqueles que carregaram o fardo da resistência, estão deixando a cena histórica. O grande problema que se impõe hoje é a ausência de novas narrativas utópicas que mobilizem a juventude contemporânea. O sonho de um país mais justo, que outrora movia multidões, parece ter sido sufocado pelas demandas imediatas da vida cotidiana.
Jung, em sua abordagem da memória coletiva, nos fala de como as gerações constroem um inconsciente coletivo, formado pelas experiências, lutas e esperanças de quem veio antes. Mas o que acontece quando essa memória é deixada de lado, quando as novas gerações não conseguem se conectar com o passado e, pior, não conseguem produzir novas narrativas que apontem para um futuro melhor?
Vivemos hoje um tempo em que o presente domina completamente nossas ações. A era da conectividade e do consumo rápido nos aprisiona em uma realidade que não nos permite sonhar. A geração da utopia se alimentava do desejo de transformar, mas a geração atual, ao que parece, vive aprisionada pelas dinâmicas do presente, incapaz de projetar novos horizontes utópicos.
A maior tragédia desse cenário é a ausência de uma visão de futuro. Sem utopias, nos tornamos reféns de um tempo sem esperança, de um presente que dita o que somos e o que seremos, sem espaço para grandes transformações. Perdemos o referencial de luta, e o que nos resta é uma juventude imersa em um ciclo de imediatismo, sem o compromisso de dar continuidade às batalhas que foram travadas no passado.
Em resumo, o sonho utópico que alimentava a geração que lutou contra a ditadura foi sepultado pelo pragmatismo do presente. Os jovens de hoje herdam um mundo sem grandes visões de futuro, e a despedida dos antigos militantes deixa uma lacuna imensa em nossa história. Resta-nos esperar que novas gerações, em algum momento, redescubram o poder das utopias e o valor de lutar por um futuro melhor.