Diante das profundas transformações que o mundo testemunha e da evidente necessidade de renovação na Igreja, é comum ouvir vozes impacientes — umas temerosas de qualquer mudança, outras ansiosas por ver um progresso acelerado. Contudo, ambas parecem ignorar a essência de uma verdadeira reforma: uma transformação que vai além de mudanças superficiais e que exige tempo, diálogo e um compromisso com raízes profundas.
O Papa Francisco, com seu estilo pastoral e paciente, representa uma liderança que entende bem essa necessidade. Sabendo que os frutos mais duradouros podem levar anos, Francisco segue sem pressa, mas com determinação, lançando sementes de mudança que poderão amadurecer depois de seu tempo. Diferente de muitos líderes, ele age como um iniciador de processos, e não como um executor de resultados imediatos, pois conhece bem os desafios e o tempo necessário para reformar uma instituição de dois mil anos.
Um exemplo eloquente dessa abordagem foi a inclusão de mulheres em espaços de decisão, como o Sínodo dos Bispos — algo inédito e que desafia tradições seculares sem rompê-las abruptamente. Ao colocar mulheres em posições-chave, a Igreja reconhece que deve refletir a totalidade do povo de Deus, onde a participação feminina é essencial para um diálogo real e uma sinodalidade completa. Esse é um passo inicial, porém marcante, que sinaliza uma valorização mais profunda da contribuição feminina na vida eclesial, não como uma concessão às pressões do tempo, mas como um retorno ao próprio coração do Evangelho.
Essa velocidade compassada, porém, gera críticas. Muitos, acostumados a ritmos modernos, acreditam que a Igreja, que resistiu a vinte séculos de história, deveria mudar imediatamente. Contudo, a lentidão metódica de Francisco oferece algo valioso: uma mudança gradual, construída sobre bases sólidas, que assegura a perenidade das reformas. Ele não busca uma transformação rápida e superficial, mas sim raízes que possam sustentar as mudanças para além das demandas imediatistas de nosso tempo.
Quem rejeita a reforma ou a considera insuficiente talvez não enxergue a importância de construir pontes, de dialogar com a tradição, com a cultura e com as demandas atuais. Francisco percebe que a Igreja não deve ser uma fortaleza isolada do mundo, mas uma casa aberta, sensível às necessidades, dores e esperanças das pessoas. Ser insensível aos desafios que o mundo coloca é, na verdade, uma negação do próprio Deus que habita na dor e na alegria da humanidade.
Não estarei aqui para ver a conclusão desse “aggiornamento” que Francisco iniciou, e talvez muitos que hoje observam o processo também não estejam. Porém, a Igreja não pertence aos tempos humanos. Sua missão se estende muito além de nosso horizonte imediato, e é o Espírito Santo quem conduz seu ritmo. Francisco, ao promover uma reforma lenta, mas profunda, edifica uma Igreja onde todos — homens e mulheres, leigos e religiosos — possam exercer plenamente sua vocação e sua responsabilidade. A verdadeira transformação não pertence a um único pontificado, mas ao próprio Espírito, que sopra onde quer, sem pressa e sem pausa.
O caminho da Igreja não é o da velocidade, mas o da consistência. Talvez, no futuro, as gerações compreendam que este papa “lento” foi, na verdade, um dos maiores reformadores da Igreja, conduzindo-a pelo caminho da fidelidade, do diálogo e do acolhimento real. E assim, os passos dados hoje poderão se tornar as colunas que sustentarão a Igreja de amanhã.