Padre Carlos Roberto
A notícia da partida iminente de Padre Vasco, uma figura querida e carismática nesta Arquidiocese, ressoa como um suave acorde que marca o término de uma era. Como São Paulo exortou a Timóteo, Padre Vasco combateu o bom combate e encerrou sua corrida aqui na Arquidiocese de Vitória da Conquista, carregando consigo uma fé sólida e inabalável.
O percurso de Padre Vasco na vida religiosa foi inspirado por um desejo profundo de combater as injustiças. Nascido José Vasconcelos dos Santos em Sergipe, ele trocou um relacionamento quase noivo pela batina, movido pela inconformidade diante da exploração do povo, da dominação dos “coronéis” e da corrupção. Como técnico agrícola, sua habilidade em fazer projetos e fiscalizar a liberação de créditos para proprietários rurais o colocou diante de propostas escusas, revelando as entranhas de um sistema injusto.
Com a influência de Dom Climério e dos Padres Italianos, Padre Vasco deixou sua vida anterior para tornar-se pescador de homens. Lembro-me dos tempos em que compartilhamos morada no Alto Maron no início da década de noventa, quando Dom Celso pediu que ele me acompanhasse em minha jornada como seminarista.
Hoje, fala-se pouco da santidade, talvez por associá-la a gestos extraordinários ou por vê-la como luxo inatingível. No entanto, Padre Vasco, ao dedicar-se às Comunidades Eclesiais de Base, testemunhou que a santidade reside na conformidade com a vontade divina, não em feitos excepcionais. Sua missão foi uma ode à vida devotada aos pobres, acompanhando cristãos nas periferias e áreas rurais.
A dimensão profética de Padre Vasco, muitas vezes confundida como política, evidencia-se em sua passagem por 13 paróquias na Arquidiocese, sempre engajado no lado social. Sua defesa dos pobres e necessitados é um testemunho de sua profunda conexão com a mensagem evangélica.
No próximo domingo, na missa de despedida de Padre Vasco, a comunidade se reúne para expressar gratidão por sua jornada. Seu legado é um chamado para que todos nós, como cristãos, busquemos a santidade não nos gestos grandiosos, mas na conformidade com a vontade divina, na construção de um mundo mais justo e compassivo.
Que a despedida de Padre Vasco seja um momento de reflexão sobre o compromisso que cada um de nós tem para com a fé, a justiça social e o serviço aos necessitados. Que sua nova jornada em Lagarto, Sergipe, seja tão abençoada quanto a que ele realizou em nossa amada Vitória da Conquista.