Política e Resenha

ARTIGO – “A Lambreta de Edvaldo e a Saudade de uma Era Romântica” Padre Carlos)

 

 

 

 

 

 

Hoje, uma imagem simples me arrebatou para o passado. Um amigo, Edvaldo, me enviou uma foto dele pilotando sua lambreta, com a esposa na garupa. A cena, capturada nos anos sessenta ou início dos setenta, transborda uma nostalgia que ultrapassa o momento congelado na fotografia. A lambreta, símbolo de uma época de liberdade, alegria e, sobretudo, romantismo, carregava com ela um pedaço da história de Edvaldo, mas também a memória de toda uma geração.

Ao olhar para a foto, fui transportado de volta ao Cine Rio Vermelho, em Salvador, onde assisti meu primeiro filme: Dio, Come Ti Amo. Era uma tarde como poucas, e minha irmã e eu fomos ao cinema, levados por uma amiga de minha mãe. Naquele momento, mal sabia eu que estava diante de algo que ficaria gravado para sempre em minha memória. A magia do cinema e a música de Gigliola Cinquetti ecoaram no coração de um menino que ainda não entendia completamente a intensidade daquele romance italiano, mas que, mesmo assim, sentiu o impacto do amor à primeira vista.

A foto de Edvaldo e sua esposa me fez lembrar da força que a cultura daquela época tinha sobre nós. Não era apenas a lambreta ou o filme, mas todo o contexto de uma geração que vivia intensamente os momentos simples e transformava a rotina em poesia. Edvaldo, pilotando sua lambreta, reflete uma era em que gestos pequenos – como passear com a pessoa amada – tinham um significado profundo. O mundo parecia mais romântico, e o futuro, mais promissor.

No entanto, a nostalgia não se limita apenas a momentos de lazer e diversão. A lambreta de Edvaldo carrega, para além da estética, a memória de uma geração que experimentou grandes mudanças no Brasil e no mundo. Era uma época em que as transformações tecnológicas, culturais e políticas ainda não haviam distanciado tanto as pessoas, e o contato humano era celebrado em encontros, cinemas de rua e passeios despreocupados. Tudo parecia mais próximo, mais tangível. E essa proximidade dava ao cotidiano uma beleza que hoje muitas vezes nos escapa.

O filme Dio, Come Ti Amo não foi apenas um sucesso pelo seu enredo ou pelas canções, mas porque capturou o espírito de uma época em que o amor era exaltado como um sentimento nobre e digno. Da mesma forma, a lambreta de Edvaldo não é só um veículo, mas uma cápsula do tempo que guarda o romantismo e a esperança de uma geração que viveu o amor com mais simplicidade e intensidade.

Essas lembranças nos fazem refletir sobre o que realmente importa. Na velocidade do mundo moderno, muitas vezes deixamos passar despercebidos os pequenos momentos que, no futuro, serão as nossas maiores recordações. Talvez Edvaldo, naquele passeio na lambreta, não imaginassem que estariam criando uma memória que, décadas depois, tocaria o coração de tantas pessoas. Mas é justamente isso que faz a vida valer a pena – os momentos que parecem comuns, mas que, na verdade, são eternos.

Hoje, ao lembrar daquela sessão de cinema e da imagem romântica de Edivaldo, percebo que a nostalgia não é apenas um desejo de reviver o passado, mas um lembrete para valorizarmos o presente. Porque, como naquela época, o que realmente importa são as pessoas que amamos, os momentos que partilhamos e as histórias que construímos juntos.

Edivaldo e sua lambreta nos mostram que, em meio às mudanças inevitáveis da vida, a essência de quem somos – o amor, a amizade e o afeto – permanece. E talvez seja isso que a nostalgia carrega de mais precioso: a certeza de que, independentemente do tempo que passa, o que realmente vivemos continua vivo, gravado em nossas memórias e em nossos corações.