Política e Resenha

ARTIGO – A Luta pela Inclusão Feminina na Igreja: Um Marco com a Nomeação de Simona Brambilla

 

 

 

 

(Padre Carlos)

A recente nomeação da Irmã Simona Brambilla para a chefia do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica representa um marco significativo no pontificado do Papa Francisco e, mais amplamente, na história da Igreja Católica. Embora essa decisão tenha um caráter simbólico e prático poderoso, é também reflexo de uma longa e ainda inconclusa jornada das mulheres por reconhecimento e participação efetiva nas instâncias de poder eclesiástico.

Desde o início de seu pontificado, Francisco tem se mostrado empenhado em abrir as portas da Igreja para grupos historicamente excluídos. Ele não só trouxe à tona discussões importantes sobre temas sociais e ambientais, como também deu passos concretos no sentido de aumentar a representatividade feminina dentro da Santa Sé. A nomeação de Brambilla segue essa linha e quebra uma barreira secular: pela primeira vez, uma mulher lidera um dicastério, função que equivale, grosso modo, a um ministério de Estado.

Contudo, a nomeação não está livre de críticas. Ainda que o número de funcionárias no Vaticano tenha crescido modestamente ao longo da última década, atingindo cerca de 23% do total de servidores, é evidente que a inclusão feminina na Igreja enfrenta limites estruturais. As mulheres continuam impedidas de assumir certas funções, especialmente as que envolvem sacramentos, já que, pela doutrina, essas atividades são exclusivas de sacerdotes — e, portanto, de homens.

Além disso, a resistência interna a mudanças mais profundas é palpável. Muitos críticos apontam que, nas bases da hierarquia eclesiástica, as mulheres ainda desempenham funções secundárias, sendo frequentemente tratadas como auxiliares dos clérigos, sem reconhecimento adequado de sua importância. Não raro, são vistas mais como serviçais do que como protagonistas da missão evangelizadora.

A nomeação de Brambilla, portanto, é um gesto que merece celebração, mas também reflexão. Por um lado, evidencia a vontade de Francisco de romper com certas tradições arcaicas que limitam o papel da mulher na Igreja. Por outro, escancara as barreiras ainda presentes, reforçando a necessidade de avanços mais profundos. Não se pode negar que a Irmã Brambilla assumirá um papel relevante, mas também é importante reconhecer que a sua autoridade será limitada por uma estrutura que privilegia os homens nos mais altos níveis decisórios.

A Igreja Católica tem uma dívida histórica com as mulheres. Desde os tempos apostólicos, quando figuras femininas desempenharam papéis fundamentais no surgimento do cristianismo, até hoje, as mulheres sempre foram protagonistas na vivência e propagação da fé. No entanto, seu protagonismo raramente foi reconhecido institucionalmente. A nomeação de Brambilla é um aceno importante, mas insuficiente, para corrigir essa dívida.

O caminho para uma verdadeira igualdade de gênero dentro da Igreja é longo. Talvez, neste momento, seja utópico esperar mudanças radicais na doutrina católica que permitam a ordenação de mulheres ao sacerdócio, mas é razoável e necessário exigir que novas nomeações, como a de Brambilla, sejam cada vez mais frequentes e abrangentes. O exemplo de Francisco deve ser seguido por seus sucessores e pelos líderes locais da Igreja, nas dioceses e paróquias ao redor do mundo.

Simona Brambilla não representa apenas uma mulher em posição de poder. Ela simboliza uma brecha na muralha do conservadorismo e uma esperança de que a Igreja do futuro possa ser mais inclusiva, justa e aberta. Celebrar sua nomeação é um dever. Mas, ao mesmo tempo, é imprescindível cobrar mais passos nesse sentido.

Francisco deu o primeiro passo, mas cabe a nós, membros da Igreja e sociedade, continuar essa caminhada. Afinal, a missão de levar o evangelho ao mundo jamais poderá ser completa enquanto as mulheres forem relegadas a papéis secundários. Se a Igreja é uma casa, é preciso que todos os seus filhos, homens e mulheres, possam sentar-se à mesa como iguais. Essa, sem dúvida, é a verdadeira comunhão.