Política e Resenha

ARTIGO – A Política do Invisível: Quando Maquiavel encontra Platão

 

 

 

(Padre Carlos)

 

 

Vivemos numa época em que o poder se esconde atrás de rostos bem maquiados e palavras ensaiadas. Políticos fazem promessas grandiosas, mas muitas vezes agem pensando só em si mesmos. Por trás desse show de sorrisos e câmeras, o que realmente acontece? Quem consegue enxergar o jogo invisível que corre nos bastidores da política?

Na “República”, Platão conta a história de Gyges, um pastor que encontra um anel mágico capaz de torná-lo invisível. Sem medo de ser visto, ele mata o rei e assume o trono. Gláucon, personagem que relata o mito, questiona: será que alguém continuaria justo se pudesse agir escondido, sem sofrer punições?

Quase mil anos depois, Maquiavel publica “O Príncipe” e dá outro recado: para manter o poder, o governante precisa aprender a parecer bom, justo e honesto — mesmo que não seja de fato. Segundo ele, o povo julga pelas aparências. Por isso, quem domina a arte de esconder suas verdadeiras intenções e mostrar só o que interessa, se dá bem.

Não existe mais anel mágico, mas a lógica é a mesma. Campanhas bem planejadas, perfis falsos nas redes sociais, discursos que tocam o coração… Tudo faz parte desse teatro em que poucos revelam seus verdadeiros planos. Há quem controle notícias, filtre dados e modele opiniões, mantendo o público no escuro.

Felizmente, Platão acreditava que a educação e o esforço podem nos ensinar a olhar além das aparências. Maquiavel, por sua vez, nos alerta para os truques usados na política. A saída é simples (mas exige disciplina): desenvolver um olhar crítico, questionar promessas, checar informações e desconfiar de sorrisos fáceis.

Para que a justiça e a transparência prevaleçam, é preciso iluminar o invisível. Que cada cidadão torne-se um “olho aberto” e não apenas uma plateia passiva. Só assim poderemos exigir uma política de verdade, onde o que importa sejam as ações concretas e não o espetáculo bem produzido.