Política e Resenha

ARTIGO – A última fumaça branca anunciará um jardineiro de almas ou um administrador de ruínas?  (Padre Carlos) —

 

 

 

 

Em Roma, os sinos dobram. Não por um funeral apenas, mas por um tempo que se encerra como as páginas velhas de uma Bíblia esquecida no altar. No dia 07 de maio, a Capela Sistina se fechará sobre si mesma como um coração de pedra, e dentro dela, homens vestidos de púrpura tentarão decidir o futuro de uma fé que sangra nas periferias do mundo.

Morreu Francisco, o Papa das areias e dos ventos. Aquele que ousou sujar as mãos com a lama dos pobres, o que falou da casa comum, da Amazônia e dos migrantes invisíveis aos olhos dourados do Vaticano. Sua cadeira agora é um trono vazio, tão pesado que talvez poucos ousem sentar-se nele sem serem devorados pelo símbolo.

A fumaça branca que subirá, seja amanhã ou daqui a semanas, não trará apenas um nome. Trará uma escolha: dobrar o joelho diante da História ou fechar os olhos para ela. Escolherão, os cardeais, um jardineiro de almas ou um administrador de ruínas? Um novo Francisco ou um novo Inocêncio III?

Nos corredores secretos, velhos cardeais, educados em escolas de sombras, alinham as peças de um jogo que poucos ousam decifrar. Mas os pobres, esses que Francisco beijou com a testa suada de operário, esperam. Esperam que a Igreja não volte a ser só mármore e ouro enquanto lá fora crianças morrem com a barriga vazia.

A última fumaça branca que se viu no céu romano trouxe esperança. Esta nova fumaça trará o quê? Fé renovada ou apenas a confirmação de que até os símbolos se cansam?