A conectividade aérea de Vitória da Conquista é um tema que vai além das questões logísticas. A análise dessa realidade revela um cenário de desigualdade que afeta diretamente o desenvolvimento econômico, social e até mesmo cultural da região. Ao contrário de outras cidades da Bahia, como Barreiras, que desfrutam de voos diretos diários para Salvador, Vitória da Conquista ainda enfrenta dificuldades imensuráveis para garantir uma malha aérea mais eficiente e acessível, especialmente para a capital baiana. É fundamental que se forme uma frente política, com a união de prefeitos da região, deputados e o governo estadual, para abraçar essa campanha.
Como terceira maior cidade do estado, Vitória da Conquista se posiciona como um ponto estratégico para a integração de diversos municípios do Sudoeste baiano, somando uma população superior a um milhão de habitantes. Essa representatividade, somada à sua importância econômica, deveria garantir a ela uma conexão aérea condizente com o seu papel na região. Contudo, a realidade é outra: o aeroporto de Vitória da Conquista, embora moderno, tem sua capacidade subutilizada devido à falta de voos regulares e de preços acessíveis.
O preço da passagem aérea para Salvador é um exemplo claro de uma política tarifária discriminatória. A sensação de que o cidadão de Vitória da Conquista é tratado como “segunda classe” em seu próprio estado é inegável. A lógica absurda de precisar fazer conexões no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, em Minas Gerais, para chegar a Salvador, quando as aeronaves da Azul sobrevoam a cidade, evidencia uma falta de respeito com a população local.
Se a conectividade aérea é fundamental para a competitividade econômica de uma cidade, ela também é essencial para o acesso a serviços básicos, como saúde e educação. A cidade de Vitória da Conquista, com sua significativa presença no setor educacional e hospitalar, deveria ser um elo importante entre o interior e a capital, mas o alto custo das passagens e a falta de voos diretos para Salvador prejudicam não só os empresários, mas também estudantes, médicos e pacientes que dependem dessa conexão para melhorar sua qualidade de vida.
Ao comparar a situação de Vitória da Conquista com a de Barreiras, que goza de voos diretos e tarifas mais acessíveis, vemos um claro descompasso entre o tratamento de cidades do interior. A desigualdade não está em questionar a prioridade das outras cidades, mas em reconhecer que Conquista, com seu alto índice populacional e relevância econômica, merece também ser incluída em uma malha aérea moderna e eficiente. O tratamento desigual expõe uma falha estratégica que precisa ser corrigida de imediato.
O que falta, portanto, é uma mobilização mais robusta, política e social, em defesa dessa causa. O que Vitória da Conquista precisa é de uma frente ampla de representantes políticos, empresariais e da sociedade civil organizada para pressionar as autoridades competentes e as companhias aéreas por um tratamento mais justo. Além disso, é necessário demonstrar que a demanda existe e é substancial. A cidade tem mercado, tem demanda e, portanto, tem direito a tarifas justas e voos diretos.
A exemplo da mobilização que garantiu a construção do aeroporto local, é preciso agora unir forças para garantir que ele seja plenamente utilizado. Não podemos mais aceitar que a distância entre Vitória da Conquista e Salvador seja uma barreira para o desenvolvimento da cidade e da região. O movimento deve ser claro: queremos uma aviação mais justa e acessível.
O programa Voa Brasil pode servir de inspiração, com passagens a preços reduzidos, para a criação de iniciativas que visem democratizar o acesso ao transporte aéreo, inclusive para as classes trabalhadoras e os estudantes da região. Contudo, o programa deve ser expandido para contemplar cidades como Vitória da Conquista, garantindo que o direito de viajar de forma acessível seja estendido a toda a população.
É urgente que nossa classe política se manifeste sobre essa disparidade tarifária e que o engajamento da sociedade seja levado ao poder público. Precisamos de um debate claro sobre a conectividade aérea, porque uma cidade do porte de Vitória da Conquista não pode continuar sendo tratada como uma cidade periférica dentro do próprio estado. O desafio está lançado. A cidade, sua região e seu povo merecem respeito.
José Maria Caires