Existem profissões, e existem vocações. E entre elas, há algumas em que essa linha parece tão tênue que qualquer distinção se torna insuficiente. Como padre, conheço bem o que é um chamado. Um chamado que nos coloca em um caminho que não escolhemos apenas por vontade própria, mas por um impulso interior, uma força maior. Essa mesma compreensão posso aplicar a outra vocação, tão sagrada quanto o sacerdócio: a de ser médico. Médico não é uma ocupação ou um título temporário, é uma condição permanente da alma, um ministério em que se vive a compaixão, o amor ao próximo e o desejo de servir a Deus através da cura e do cuidado.
Dr. Antonio Sturaro e Dr. Roberto Lara, são exemplos claros disso. Não estão médicos, são médicos. Há uma diferença substancial entre os que encaram a medicina como um emprego e os que abraçam a medicina como um ministério. Estes últimos compreendem que ser médico não é um papel, mas uma identidade. Essa identidade imprime caráter, confere uma missão que ultrapassa as técnicas e os conhecimentos científicos. É, em essência, um chamado divino, em que Deus escolhe, capacita e abençoa.
Quando um médico entra em uma sala de cirurgia, ele não o faz sozinho. Por trás de cada corte, cada ponto, cada gesto de cura, existe uma presença maior. A mão de Deus repousa sobre a mão do médico, guiando-o, inspirando-o, iluminando seu discernimento. Essa consciência é fundamental para aqueles que, de fato, têm a vocação de médicos. Muitos sabem disso e, antes de cada procedimento, silenciosamente pedem a bênção e a proteção divina. Esses profissionais entendem que a medicina é uma parceria entre ciência e fé, entre habilidade e espiritualidade.
Certa vez, ouvi um professor de medicina orientar seus alunos recém-formados para nunca se esquecerem de serem instrumentos de Deus. Essa orientação, longe de ser apenas um conselho, é uma advertência profunda. A medicina, sem a consciência de sua sacralidade, perde parte de sua essência. O médico deve ser guiado não apenas pelo desejo de aliviar o sofrimento físico, mas também pelo temor a Deus, pelo respeito ao mistério da vida, pela consciência de que lida com o mais sagrado dos dons: a existência humana.
E é por isso que a verdadeira medicina nunca se desvincula da espiritualidade. No momento em que um médico invoca a proteção divina, ele se torna um canal de cura e, ao mesmo tempo, de graça. É nesse ponto que o milagre da cura se torna possível. A ciência, a técnica e a sabedoria humana são fundamentais, mas não são completas sem a presença de algo superior, um mistério que transcende as capacidades humanas.
A medicina exercida como vocação é um gesto de fé, um ato de entrega. Não apenas salva o corpo, mas toca a alma, respeita o mistério da criação, reconhece que o médico não age sozinho, mas é um colaborador de Deus. Essa é a verdadeira medicina, aquela que transforma vidas, restaura a saúde e mantém sempre vivo o reconhecimento de que somos todos instrumentos de algo muito maior.