Nos meandros tumultuados da política brasileira, as mudanças partidárias têm se destacado como um fenômeno inusitado, desafiando as fronteiras ideológicas de maneira surpreendente. O espectro político, que antes parecia rigidamente definido, agora se dissolve diante de adesões que transcendem qualquer expectativa. O que mais chama atenção nesse quadro é a amplitude dessa movimentação, que vai desde a ultradireita até a esquerda, sem aparentes constrangimentos.
A notícia de que declarados bolsonaristas encontraram abrigo no PT despertou perplexidade. A estrela do Partido dos Trabalhadores, símbolo outrora incontestável da esquerda brasileira, parece agora tingir-se não de brilho, mas de um rubor envergonhado diante dessas adesões inesperadas.
O caso do ex-deputado federal Tito é paradigmático. Antes um bolsonarista convicto, defensor ferrenho de Jair Bolsonaro e crítico ferino do PT, agora, de forma desconcertante, Tito se filia ao PT de Barreiras, na Bahia. Sua justificativa, uma “convergência programática” com o PT, levanta questões sobre a verdadeira motivação por trás dessa mudança partidária. Estaria o pragmatismo político superando as convicções ideológicas?
Outro episódio emblemático é a filiação do prefeito Lélio Alves Brito Junior, outrora membro do PL, partido de Bolsonaro e de direita alinhado ao conservadorismo.
Contrariando setores do PT, Lélio agora é pré-candidato à reeleição pelo partido, respaldado pelo governador Jerônimo. Essas adesões revelam um pragmatismo político evidente, buscando alianças e recursos para as eleições municipais de 2024.
O PT, detentor do maior tempo de televisão e do maior fundo eleitoral, torna-se um polo atrativo para políticos em busca de viabilidade eleitoral.
Sua popularidade, evidenciada em pesquisas, e o respaldo de Lula, consolidam o partido como uma escolha estratégica para muitos. No entanto, esse pragmatismo pode representar um risco significativo para a identidade e a coerência do PT.
Ao se aliar a políticos que representam correntes conservadoras e reacionárias, o PT arrisca diluir seu discurso e desagradar sua base. A estrela que um dia brilhou como símbolo de esperança agora parece corar de vergonha diante dessa mistura improvável.