Em dezembro de 1980, o mundo perdeu John Lennon, uma voz que ecoava paz em tempos turbulentos. Quatro décadas depois, suas palavras ainda nos confrontam com uma pergunta incômoda e necessária: “O que você fez?”
A pergunta ressoa com particular força no Brasil atual, onde manchetes sobre violência policial e debates sobre o uso da força nos fazem refletir sobre nossa responsabilidade coletiva. Quando um agente da PRF dispara sua arma no Rio de Janeiro, não é apenas uma bala que voa – é um símbolo de todas as decisões irreversíveis que tomamos diariamente.
Como sociedade, nos encontramos em uma encruzilhada. De um lado, a “bancada da bala” se mobiliza contra decretos que visam regular o uso da força policial. Do outro, cidadãos clamam por uma segurança pública mais humana e responsável. Entre esses extremos, está a sabedoria antiga que Lennon tentou nos ensinar: a violência gera um ciclo que não pode ser desfeito.
Cada bala disparada é como uma palavra dita em momento de raiva – não há como voltar atrás. Não podemos recolher os projéteis, assim como não podemos apagar as consequências de nossas ações. Por isso, a reflexão deve vir antes do gatilho, antes da palavra áspera, antes do gesto impensado.
Para o próximo ano, talvez nossa resolução mais importante não seja sobre grandes feitos ou promessas grandiosas. Talvez seja simplesmente sobre pensar duas vezes antes de “atirar nossas balas” – sejam elas literais ou metafóricas. Sobre escolher com mais cuidado nossas ações, reconhecendo que cada gesto tem consequências irreversíveis.
A verdadeira mudança não está em planos revolucionários, mas em pequenas decisões diárias de não perpetuar ciclos de violência. Está em escolher a empatia quando a raiva seria mais fácil, em optar pelo diálogo quando o confronto parece inevitável.
No fim, a mensagem é simples: as balas que disparamos – sejam elas palavras, ações ou decisões – não voltam. Que possamos, então, ser mais sábios ao escolher quando e se devemos apertar o gatilho.