Política e Resenha

ARTIGO: Ampliar o número de deputados federais: uma proposta fora de sintonia com o Brasil real

 

 

Por Padre Carlos

Em meio ao cenário de crise fiscal, descrédito nas instituições e um distanciamento crescente entre representantes e representados, a possibilidade de ampliar o número de deputados federais na Câmara soa, no mínimo, como um desserviço à razoabilidade e à cidadania. Foi com a sensatez que a sociedade espera de seus líderes que o senador Otto Alencar (PSD-BA), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, se posicionou contra essa proposta.

Sua declaração é mais que uma opinião isolada: é um reflexo do bom senso diante de um Congresso que já conta com 513 deputados federais — um dos maiores parlamentos do mundo, tanto em número quanto em custo. Ampliar esse contingente seria inflar ainda mais a máquina pública, sem qualquer garantia de melhora na representatividade ou na qualidade legislativa. Pelo contrário: significaria aumentar o gasto com salários, verbas de gabinete, assessores e toda a estrutura que acompanha cada mandato.

Defensores da proposta argumentam que a medida busca ajustar a representatividade proporcional ao crescimento populacional dos estados, conforme prevê a Constituição. É verdade que a defasagem da distribuição de vagas precisa ser discutida, já que estados como São Paulo e Minas Gerais têm representação subdimensionada em relação à sua população. No entanto, a solução não está em inflar o total de cadeiras, mas sim em redistribuí-las com base em critérios mais justos e atualizados.

A postura do senador Otto Alencar ganha ainda mais relevância por vir de quem preside a CCJ, instância decisiva no processo legislativo. Seu posicionamento sinaliza que há dentro do Senado vozes dispostas a barrar iniciativas que desrespeitam o contribuinte, o equilíbrio federativo e o clamor por reformas estruturais no país.

O Brasil vive um momento em que se espera contenção, eficiência e responsabilidade. Propor o aumento de parlamentares vai na contramão dessas expectativas e apenas reforça a percepção de uma classe política voltada para si mesma, desconectada das urgências do povo que representa.

Mais que nunca, é tempo de enxugar, reformar e reconectar o Legislativo com a sociedade. Ampliar o número de deputados, neste contexto, seria um passo largo — e perigoso — na direção contrária.