(Padre Carlos)
Se há uma coisa que a ViaBahia faz bem, é protagonizar o enredo tragicômico da administração pública brasileira. Quando pensamos que finalmente a concessionária, conhecida por cobrar pedágios astronômicos enquanto entrega rodovias em estado lunar, estaria de malas prontas, surge o governador Jerônimo Rodrigues para salvar o dia. Ou seria salvar a bagunça?
Sim, caros leitores, a ViaBahia é como aquele parente distante que aparece na festa, não traz presente, come tudo e ainda critica o anfitrião. É o “mal necessário” que todos adoram odiar, mas que, no fim, ninguém consegue se livrar. Afinal, quem seria tão audacioso a ponto de entregar as BRs 116 e 324 a um plano de transição decente e bem planejado?
O destrato com a ViaBahia, aprovado pela ANTT em outubro, parecia ser o desfecho dessa novela de décadas. Contudo, como todo bom folhetim, tivemos uma reviravolta. Não haverá tempo para organizar a saída da concessionária até o final de 2024, segundo o próprio governador. A justificativa? Garantir que ninguém sinta saudades da empresa.
Ora, é preciso muito talento para transformar incompetência administrativa em uma preocupação paternalista. “Quem vai cuidar da estrada, dos guinchos, da iluminação?”, indaga o governador. Pois bem, Excelência, essa pergunta deveria ter sido feita ANTES de permitir que a situação chegasse a esse ponto.
Enquanto isso, a ViaBahia segue no papel de vilã, faturando cada vez mais com pedágios exorbitantes e oferecendo estradas dignas de um rally. Como bem apontou o advogado Bruno Sobral, as condições das BRs administradas pela empresa não são apenas ruins – elas são perigosas. Buracos, falta de sinalização e faixas intransitáveis fazem parte do pacote que os usuários pagam caro para utilizar.
E o que dizer da fiscalização? A Polícia Rodoviária Federal assiste a esse espetáculo de descaso como uma plateia entediada. Não há cobranças, não há ações efetivas, e quem paga a conta são os cidadãos, que perdem vidas e enfrentam tragédias evitáveis.
O mais revoltante é o alinhamento político que protege a concessionária. Quem precisa de planejamento ou responsabilidade quando se pode contar com a boa e velha inércia estatal? Enquanto isso, os motoristas seguem desviando de crateras, enquanto caminhões ocupam a faixa da esquerda porque a da direita é um convite ao desastre.
A permanência da ViaBahia, mesmo temporária, só reforça a piada de mau gosto que é a gestão pública das rodovias no Brasil. E, no fim das contas, a concessionária, com toda sua incompetência, acaba se tornando o “malvado favorito” do governo: ruim, mas melhor do que o caos absoluto que parece ser a única alternativa.
O que a sociedade precisa entender é que não se trata apenas de buracos no asfalto, mas de buracos na gestão pública, na fiscalização e na ética política. Precisamos de planejamento, de transição e, acima de tudo, de respeito ao cidadão.
Mas, pelo visto, continuaremos assim: pagando caro pelo pedágio e ainda agradecendo por não estarmos atolados na lama – ao menos não literalmente. Afinal, a ViaBahia pode ser uma tragédia, mas, para muitos, é uma tragédia “organizada”. E isso, amigos, já parece ser pedir demais.