Política e Resenha

ARTIGO – “Aproveite a Vida” (Padre Carlos)

 

 

 

Quinto Horácio Flaco, o renomado Horácio, poeta lírico e pensador romano, deixou como legado uma das frases mais emblemáticas da filosofia: Carpe Diem , “Aproveite o dia”. Sua obra, marcada por uma reflexão profunda sobre a fugacidade da vida, ressoa ainda hoje, séculos depois, convidando-nos a reconsiderar a maneira como encaramos o tempo e as oportunidades que se apresentam em nosso caminho. Mas, se Horácio nos propõe o dia como unidade de medida para o aproveitamento da vida, eu ousaria ir um pouco além e afirmar: Aproveite a Vida .

A vida, em sua vastidão e complexidade, não pode ser limitada a um único momento ou dia. Quando dizemos “Aproveite o dia”, corremos o risco de compreender essa mensagem de forma superficial, enxergando-a como um convite ao prazer imediato e fugaz. Mas a vida nos convida a algo mais profundo. Aproveitar a vida é muito mais que desfrutar de um instante; é mergulhar no sentido de cada experiência, seja ela de alegria ou dor, sucesso ou fracasso.

Horácio, com sua sensibilidade poética, já intuía isso. O verdadeiro “carpe diem” é a habilidade de extrair o máximo da vida, em sua totalidade. É um apelo para não perdermos os dias com medos, distrações ou conformismo. Em vez disso, convidamos a entregar de corpo e alma ao que nos rodeia, às nossas paixões e aos nossos sonhos.

Lembro-me da famosa cena do filme A Sociedade dos Poetas Mortos , onde Robin Williams interpreta o professor John Keating. Ele, com um olhar profundo sobre a juventude e a vida, revive o carpe diem diante de seus alunos. Ele os convida a “aproveitar o dia”, a fazer da vida algo extraordinário. Aqui, a conexão com Walt Whitman e seu poema ecoa com vigor: “Não deixe de acreditar que as palavras e a poesia podem sim mudar o mundo”. E eu diria mais, é essencial que vivamos não apenas o dia, mas a vida inteira com essa paixão.

Aproveitar a vida não é buscar apenas momentos de felicidade ou prazer. É sério que somos protagonistas de uma jornada que inclui lutas, desafios e transformações. “A vida é deserto e é oásis”, como Whitman coloca, e somos nós que escrevemos cada capítulo dessa história.

Sonhar é um dos grandes poderes que o ser humano possui. Mas sonhar não pode ser um exercício vazio ou distanciado da realidade. Sonhar é construir possibilidades, é desafiar as situações e, em meio às dificuldades, seguir acreditando que o amanhã pode ser melhor. “Nunca pare de sonhar”, nos diz Whitman. E eu peçoia: nunca pare de viver. De viver intensamente, com todas as cores e contrastes que a vida nos oferece.

O mundo moderno, com suas pressões e complexidades, muitas vezes nos empurra para a mediocridade. Estamos acostumados a viver no “silêncio aterrador” que Whitman descreveu, um silêncio que nos impede de viver de verdade. Mas se pudermos, mesmo diante de ventos contrários, continuar a gritar “Carpe Diem”, aproveitaremos a vida, e não apenas o dia.

Viver é se permitir sentir, sonhar, errar, recomeçar. Viver é entender que cada dia, cada momento, é uma parte do todo. E nesse todo, somos nós os Poetas Vivos, aqueles que, como sugere Whitman, podem transformar a própria existência em poesia. Carpe diem, sim. Mas acima de tudo, carpe vitam.