A frase popular “Diga-me com quem andas e te direi quem és” nunca esteve tão em evidência no cenário político brasileiro. O caso recente envolvendo o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o ministro do STF, Kassio Nunes Marques, em uma viagem para a ilha grega de Mykonos, ao lado do cantor Gusttavo Lima e de investigados por lavagem de dinheiro, lança luz sobre as escolhas e companhias das principais figuras públicas do país. Esse episódio nos leva a refletir sobre a responsabilidade que homens de poder têm em relação às suas associações e como essas relações podem moldar, para o bem ou para o mal, suas imagens perante a sociedade.
O governador Caiado alega que estava de férias e que desconhecia os vínculos dos investigados com a Operação Integration, que apura um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e jogos de azar. O ministro Kassio Nunes Marques também estava presente na festa de aniversário de Gusttavo Lima, em um iate luxuoso avaliado em R$ 1 bilhão. Ainda que Caiado e o ministro do STF possam alegar desconhecimento ou que estavam lá apenas como convidados, o fato de estarem em meio a pessoas envolvidas em crimes dessa magnitude não pode ser ignorado.
Quando figuras como um governador e um ministro do Supremo Tribunal Federal se associam a eventos que, posteriormente, se revelam vinculados a atividades criminosas, suas reputações sofrem abalos quase irreparáveis. A máxima de que “as aparências enganam” dificilmente se aplica aqui. Na esfera pública, a responsabilidade de um líder vai além de suas ações diretas; inclui também as associações que mantêm e as companhias que escolhem. Se por um lado, Caiado e Nunes Marques podem alegar desconhecimento, por outro, sua proximidade com pessoas envolvidas em crimes de colarinho branco levanta questionamentos sobre a integridade e o discernimento de ambos.
É importante lembrar que a política e o Judiciário são arenas em que as percepções valem tanto quanto os fatos. A confiança do público na imparcialidade e na moralidade dos líderes é essencial para a manutenção da ordem democrática. Quando um governador e um ministro do STF compartilham festas e viagens com indivíduos sob investigação, isso gera desconfiança e enfraquece a fé do povo nas instituições.
No caso específico de Ronaldo Caiado, sua participação na viagem com Gusttavo Lima e o casal investigado não pode ser tratada apenas como um “momento de lazer”. Um líder, sobretudo um governador, não pode se dar ao luxo de escolher mal suas companhias, ainda que seja por uma questão de amizade. O peso de suas decisões não recai apenas sobre ele, mas sobre o Estado que ele representa e a confiança que as pessoas depositam em sua liderança. Estar em um ambiente permeado por escândalos mancha a imagem de qualquer homem público, e não importa quão convincente seja sua defesa, a percepção popular será sempre negativa.
O mesmo se aplica ao ministro Kassio Nunes Marques. Como membro da mais alta Corte do país, espera-se que suas atitudes reflitam a sobriedade e a prudência que o cargo exige. Sua presença em um evento de tal magnitude, ao lado de investigados, fragiliza ainda mais a imagem de um Judiciário que já vem sendo questionado pela população. O STF, por sua natureza, deve ser visto como um guardião da lei e da justiça, mas quando um de seus ministros se envolve, mesmo que indiretamente, em episódios como este, é natural que o público perca a confiança na imparcialidade do tribunal.
As companhias revelam muito sobre o caráter e as prioridades de qualquer indivíduo, mas, no caso de figuras públicas, essas escolhas se tornam ainda mais significativas. No cenário atual, onde escândalos de corrupção e má-conduta parecem estar sempre à espreita, o papel dos líderes deve ser o de exemplo, de sobriedade e de transparência. Não há mais espaço para a conivência ou para a desculpa do “não sabia”. A sociedade espera que seus governantes e juízes se distanciem, não apenas fisicamente, mas moralmente, de qualquer ambiente que possa sugerir comprometimento com a ilegalidade.
Ao refletirmos sobre este episódio envolvendo Ronaldo Caiado e Kassio Nunes Marques, fica claro que o poder vem acompanhado de grandes responsabilidades, e a principal delas é escolher sabiamente com quem se anda. Afinal, como diz a velha máxima, as companhias que mantemos revelam muito mais sobre nós do que estamos dispostos a admitir.