(Padre Carlos)
A cena, transmitida ao vivo na Rádio Metrópole, foi emblemática: Jaques Wagner e Rui Costa, dois pesos-pesados do Partido dos Trabalhadores na Bahia, se colocam simultaneamente como pré-candidatos ao Senado Federal na chapa de Jerônimo Rodrigues para 2026. O gesto, entre sorrisos e ironias, tem o peso de uma bomba política cuidadosamente programada.
Mais que um anúncio, foi um sinal claro: o PT da Bahia não quer apenas manter o poder, quer demonstrar musculatura, coesão e blindagem contra as fissuras que começam a aparecer dentro e fora do seu campo político. Ao colocar Wagner e Rui como pré-candidatos, a sigla testa os limites da unidade, mas também joga luz sobre uma possível disputa interna travestida de harmonia.
Trata-se de uma jogada arriscada e genial ao mesmo tempo. Os dois nomes carregam capital político, histórico de vitórias e penetração nacional. Mas a pergunta é inevitável: há lugar para ambos? Ou estaremos diante de um ensaio de racha que será disfarçado com discursos de “projeto coletivo”?
A estratégia pode ser vista como um xeque-mate ao campo conservador, que ensaia ressurgir na Bahia com apoio bolsonarista. Mas também pode ser um tiro no pé se o partido não conseguir acomodar interesses e vaidades. O eleitor, cada vez mais atento às disputas de bastidores, percebe quando há excesso de poder e escassez de humildade.
Jerônimo, por sua vez, corre o risco de ser engolido por dois gigantes. Ou se fortalece como liderança autônoma, ou pode virar apenas o fiador de um pacto de caciques.
A Bahia, mais uma vez, se coloca como espelho do Brasil. E o espelho começa a refletir sinais de uma eleição que promete ser quente, tensa — e surpreendente.