No último domingo, dia 13 de outubro, comemoramos cinco anos desde a canonização de Santa Dulce dos Pobres, um marco na história religiosa do Brasil. Essa data nos convida a refletir sobre a vida e o legado dessa mulher extraordinária que, através de sua simplicidade, revelou a face misericordiosa de Deus. Celebrar Santa Dulce é, antes de tudo, celebrar a essência da vida: o amor ao próximo, a solidariedade e a humildade.
Santa Dulce, ou simplesmente Rita, como era chamada antes de ingressar na vida religiosa, era uma menina de olhos negros e firmes, cheia de coragem e determinação. Essa coragem, nascida de uma vocação sincera, transformou a pequena Rita na figura que hoje conhecemos como Santa Dulce dos Pobres. Ela, que começou sua missão invadindo um galinheiro para alimentar idosos famintos, já demonstrava desde cedo que seu chamado era o de acolher os miseráveis, oferecendo não apenas pão, mas dignidade.
Os pobres foram o centro de sua missão. A Irmã Dulce, como ficou conhecida em Salvador, dedicou sua vida a uma causa que transcende o simples conceito de pobreza. Ela via nos mais necessitados a presença do próprio Cristo. Sua saúde frágil não a impediu de andar pelas ladeiras de Salvador, carregando em si o peso de uma missão divina: cuidar dos miseráveis, daqueles que eram esquecidos pela sociedade e pelo poder público. Sua coragem e fé inabaláveis, muitas vezes, contrariaram as autoridades, que acabavam cedendo diante de seu amor desmedido pelos mais vulneráveis.
Para quem, como eu, teve o privilégio de viver na mesma época que Irmã Dulce, a sua canonização não surpreendeu. Desde a década de 1960, sua bondade era evidente para todos que cruzavam seu caminho. Hoje, sua figura ressurge como um lembrete claro de que, em um mundo cada vez mais materialista e indiferente, o verdadeiro poder reside na simplicidade e no amor.
Santa Dulce não apenas ajudou os pobres; ela fez deles o centro de sua vida. Mais do que caridade, sua entrega foi uma opção de vida. Nesse sentido, sua canonização não é apenas um reconhecimento oficial da Igreja, mas um chamado para todos nós: viver a simplicidade, abraçar a pobreza de espírito e reconhecer no outro, especialmente no pobre, a presença de Deus.
Em um de seus milagres mais recentes, um homem cego há 14 anos recuperou a visão após pedir a intercessão de Santa Dulce antes de dormir. Milagres como esse apenas reafirmam que sua presença não deixou de ser sentida, mesmo após sua morte. Ela continua, de alguma forma, caminhando entre nós, lembrando-nos da importância de acolher o outro com amor e compaixão.
Que a vida de Santa Dulce dos Pobres inspire todos nós a olhar para os mais necessitados com os olhos de misericórdia, reconhecendo que, em cada pessoa marginalizada, encontramos o rosto de Cristo. Que possamos aprender com sua simplicidade e coragem, optando por viver com o que realmente importa: o amor ao próximo e a compaixão.
Intercedei por nós, Santa Dulce dos Pobres, para que, em nossa pobreza de espírito, possamos acolher o pobre como nosso irmão e encontrar em nossas ações o verdadeiro sentido da vida cristã.