Política e Resenha

ARTIGO – Costurando o Tempo e a Esperança

 

(Padre Carlos)

E se a vida fosse uma tapeçaria inacabada, um manto sagrado entrelaçado por nossas escolhas, afetos e arrependimentos? E se nos fosse dada a agulha do tempo e a linha da consciência, poderíamos, enfim, costurar o tempo?

A proposta parece poética, mas carrega uma força simbólica tremenda. Bordar sobre os erros para que desaparecessem não é apagar a história, mas ressignificá-la. É transformar cicatriz em arte, tropeço em lição, desvio em reencontro. Como alfaiates da alma, seríamos capazes de revisar cada ponto mal dado e reconstruir a textura do nosso viver.

Costurar as pessoas que amamos bem pertinho de nós talvez fosse o remédio mais eficaz contra a solidão. Num tempo em que vínculos se dissolvem com a rapidez de um toque na tela, o gesto de costurar é resistência: aproxima, une, dá permanência. E que bonito seria costurar os domingos — esse símbolo de descanso e afeto — um mais perto do outro, como se pudéssemos estender o sabor da paz por toda a semana.

Costurar o amor verdadeiro no peito de quem amamos é sonho de muitos corações aflitos. Mas o amor, quando sincero, já é linha invisível que une, mesmo à distância. Costurar a verdade na boca dos seres, no entanto, é das missões mais urgentes — num mundo sufocado pela mentira, a verdade precisa ser alinhavada com firmeza, mesmo que doa.

Ah, se pudéssemos costurar a saudade no fundo de um baú! Mas a saudade, essa senhora teimosa, sempre escapa pelas frestas da memória. E mesmo assim, insistimos em guardar, como se pudéssemos deter o tempo e o afeto em um mesmo relicário.

Costurar a autoestima nas alturas seria um ato de revolução silenciosa. Quando nos sentimos pequenos, o mundo nos faz acreditar que não cabemos nele. Elevar a autoestima é ajustar o espelho da alma para que nos vejamos com mais dignidade, menos culpa, mais amor.

E se o perdão fosse costurado na alma, e a bondade nas mãos? Talvez viveríamos menos em guerra e mais em comunhão. Costurar o bem no bem, e acima do mal, seria a costura mais delicada e mais necessária — pois ela exige intenção, entrega e vigilância constante.

Costurar a saúde na enfermidade é utopia e ciência. É também fé. Porque nem sempre o corpo cura, mas muitas vezes a alma sim. E a felicidade costurada em todos os lugares só pode ser feita com a agulha da simplicidade e a linha da gratidão.

Costurar a vida é isso: um trabalho diário, invisível, paciente. Não se faz com pressa, nem se terceiriza. Cada um borda com o fio que tem. O segredo está na esperança que se põe em cada ponto e na coragem que se assume em cada remendo.

Afinal, quem de nós já não precisou costurar a si mesmo para continuar vivendo?

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