Política e Resenha

Artigo de opinião: O que move o seu voto? Um olhar para além das urnas do conclave

 

 

Em tempos de conclave, quando os olhos do mundo se voltam para a Capela Sistina e suas chaminés, emerge uma pergunta crucial que ultrapassa o universo eclesial e penetra o âmago de qualquer processo eleitoral: o que move o seu voto? É o interesse pessoal? A simpatia por determinada figura? Ou, no caso da Igreja, o bem da própria Igreja e, em última instância, da humanidade?

Dom Raymundo, com sua longa experiência, nos oferece uma chave de leitura reveladora. Ele lembra que, no primeiro escrutínio, os votos costumam ser dispersos, quase como uma homenagem simbólica a certos cardeais. A partir daí, o processo ganha seriedade, e os nomes mais fortes começam a concentrar os votos. Essa dinâmica, curiosamente, ecoa eleições fora do conclave: muitas vezes começamos divididos entre afinidades e simpatias, até que o momento decisivo exige um olhar mais profundo sobre o que realmente importa.

O grande desafio, porém, está no discernimento entre vaidade e vocação. Dom Raymundo é taxativo: “Quem quer ser papa é porque não tem consciência da missão.” Em outras palavras, quem se apresenta motivado pela vaidade já carrega um sinal de desqualificação. Isso nos leva a refletir não apenas sobre quem vota, mas também sobre quem se coloca como candidato — seja num conclave ou numa eleição civil.

No fundo, o voto responsável nasce do reconhecimento de que cada decisão carrega um peso coletivo. O que está em jogo não é apenas a afinidade pessoal, mas o bem maior — o bem da Igreja, no caso do conclave, e o bem comum, no caso das sociedades democráticas. O voto movido apenas por interesses pessoais, por revanche política ou por sedução midiática corre o risco de trair o propósito da escolha.

Ao trazer à tona sua curiosidade pelo filme “Conclave”, Dom Raymundo mostra outro aspecto humano e interessante: o fascínio popular pelos bastidores do poder. A ficção tende a reforçar a imagem do conclave como um palco de intrigas e manobras, mas talvez o que realmente devesse nos fascinar fosse o drama íntimo e espiritual daqueles homens confinados no Vaticano, chamados a decidir não com base em preferências, mas em discernimento.

Assim, a pergunta que paira sobre o conclave também serve para todos nós, cidadãos do mundo: o que move o seu voto? Antes de apertarmos o botão da urna — ou, no caso do conclave, de depositar o nome na cédula — deveríamos nos perguntar: isso serve ao bem maior? Ou serve apenas ao meu gosto pessoal?

O bem da Igreja e da humanidade não é uma abstração. Ele passa pela escolha de líderes capazes de servir, e não de se servir do poder. Num mundo cada vez mais polarizado e superficial, essa reflexão vale ouro — seja no Vaticano, no Congresso ou nas prefeituras mundo afora.

Talvez, no fim, a sabedoria do conclave seja também uma lição para todos nós: votar não é escolher quem mais nos agrada, mas quem mais se aproxima do bem comum. É preciso lembrar disso antes que a fumaça branca — ou os resultados das urnas — nos surpreendam.