Política e Resenha

ARTIGO – Entre o Silêncio e a Palavra, um Chamado à Alma

 

 

 

(Padre Carlos)

Não quero mais ser apenas colunista. Não me basta a moldura habitual do articulista que comenta os fatos e oferece sua opinião aos leitores. Desejo mais. Desejo ultrapassar essa fronteira do papel impresso, da tela iluminada, do texto pontual. O que quero agora é ser um ponteiro de memórias. Sim, um marcador do tempo que pulsou nas veias de uma geração que ousou sonhar, amar e lutar. Uma geração que acreditou, com os olhos em brasa, que a transformação era possível — e que, mesmo machucada, ainda carrega a semente da esperança na palma das mãos.

Quero ser também contador de silêncios. Há coisas que não foram ditas. Há dores que jamais encontraram palavras. Há histórias que ficaram retidas no peito, como gritos sufocados em madrugadas solitárias. Desejo dar voz a essas ausências, traduzir o que nunca foi escrito nos jornais, nos discursos, nas atas dos poderosos. Quero dar corpo ao invisível e tornar visível o que o tempo, às vezes cruel, tentou apagar.

E quero, acima de tudo, ser poeta. Não no sentido clássico de versos metrificados, mas poeta da existência. Um militante da palavra que vibra. Um artesão da esperança. Um tecelão que une o fervor juvenil — aquela paixão crua que nos moveu nos primeiros passos — com a persistência madura de quem segue crendo que um outro mundo é possível.

Meus textos, se tiverem algum valor, que não sejam apenas leitura de circunstância. Que toquem, antes de tudo, a profundidade da alma humana. Que entrem onde a dor se esconde, onde o sonho resiste, onde o amor, mesmo ferido, continua se doando. Que cada linha seja uma fresta de luz para quem vive na sombra. Que cada palavra seja semente de renovação entre gerações.

Escrevo como quem ora. Escrevo como quem luta. Escrevo como quem ama.
E, acima de tudo, escrevo como quem espera.