(Padre Carlos)
A história do Brasil não se pode contar sem a presença da África em nossa formação cultural, social e espiritual. As marcas deixadas por milhões de africanos arrancados de suas terras não se resumem ao sofrimento. Elas se transformaram em força, criatividade e resistência, moldando aquilo que hoje conhecemos como a alma brasileira.
Ao caminhar pelas ruas de Salvador, é impossível não sentir a energia que emana das tradições africanas. O cheiro inconfundível do dendê nas barraquinhas de acarajé, o som envolvente dos atabaques nas rodas de capoeira e o brilho das águas durante a Festa de Yemanjá falam de uma história que começou com dor, mas que floresceu em vida, cultura e arte.
Reverenciar nossos antepassados não é apenas uma questão de memória, mas de justiça. Ao desfrutarmos do vatapá ou ao dançarmos ao som de um timbau, precisamos lembrar que esses elementos culturais foram forjados por homens e mulheres que, mesmo na opressão, não abriram mão de suas raízes. Essa herança não é um simples adereço: é a essência da nossa identidade.
Assim, cada vez que seguirmos o cortejo das baianas da Lavagem do Bonfim ou pedirmos proteção a um orixá, devemos fazê-lo com respeito e gratidão. A mãe África, com seu manto de tradições e espiritualidade, não nos legou apenas símbolos, mas valores profundos de comunhão, resistência e fé.
Portanto, que cada gesto de celebração da cultura afro-brasileira seja, ao mesmo tempo, um ato de memória e de luta contra o preconceito. Honrar essa herança é reconhecer que o Brasil só é Brasil porque tem África pulsando em suas veias.
Que jamais nos esqueçamos: somos filhos de muitas terras, mas na alma de cada brasileiro ressoa o tambor da Mãe África.