Política e Resenha

ARTIGO – Jonas Paulo e o desafio de resgatar a alma do PT baiano

 

 

(Padre Carlos)

A política, como os rios, muda de curso, mas nunca deixa de correr. Neste final de semana em plena campanha em  Vitória da Conquista pela candidatura à presidência do PT da Bahia, Jonas Paulo trouxe de volta à cena política um símbolo de coerência, história e projeto. Seu gesto não é um ato pessoal: é uma convocação pública para um novo tempo.

Em tempos de confusão ideológica e dispersão programática, a volta de Jonas à disputa interna da sigla representa mais que um retorno. É um reencontro do PT consigo mesmo. A escolha de seu nome pela Corrente Nacional “Construindo um Novo Brasil” (CNB) nasce de um amplo consenso, mas sobretudo de um reconhecimento: poucos como Jonas têm autoridade moral e política para reunificar o partido em meio a tantos desafios.

A trajetória de Jonas Paulo não é apenas política. É também ética e simbólica. Militante desde os tempos da ditadura, defensor da Reforma Agrária, articulador na luta pela independência de Angola, fundador da CUT e do próprio PT — Jonas encarna uma esquerda que tem chão, suor e história. E isso faz diferença.

Sua candidatura surge num momento crítico. O Brasil vive uma polarização que testa as estruturas da democracia. A Bahia, laboratório político da esquerda nas últimas décadas, começa a dar sinais de desgaste em seu modelo de governabilidade. O PT, por sua vez, precisa decidir se seguirá anestesiado pela lógica das alianças oportunistas ou se voltará a ser protagonista.

Jonas Paulo não apenas propõe um caminho, mas representa uma possibilidade real de reconstrução. Seu discurso é direto: derrotar a extrema-direita, resgatar o protagonismo político e reacender a chama da militância. Fala com clareza de unidade, mas também de confronto ideológico. E isso incomoda — como toda liderança autêntica deve incomodar.

Sob sua primeira gestão, o PT baiano teve conquistas notáveis: ampliou bancadas, conquistou prefeituras, estruturou diretórios municipais e cresceu como partido de massas. Isso não se deve apenas à conjuntura, mas à capacidade de organização e escuta que Jonas sempre demonstrou. Sua volta ao centro do tabuleiro, portanto, não é saudade: é estratégia.

O apoio de lideranças como Fátima Nunes e Everaldo Anunciação não é mero afeto político. É reconhecimento de que, neste momento, o partido precisa mais de raízes do que de marketing. Precisa de quem compreenda a política como construção coletiva, e não como projeto pessoal.

Mas Jonas sabe: seu maior desafio não está fora. Está dentro. Está no PT fragmentado, desgastado pelo poder e, muitas vezes, distante da base. Se eleito, terá que lidar com vaidades internas, tendências sectárias e um ambiente onde a unidade é pregada, mas pouco praticada. Sua missão será menos administrativa e mais pedagógica: devolver ao PT baiano a noção de projeto.

A militância está viva — talvez adormecida, mas sedenta por sentido. Se Jonas conseguir ativar essa energia e canalizá-la para 2026, o PT terá não apenas um presidente, mas um líder capaz de conduzir a travessia.

Porque o tempo da esquerda contemporânea exige mais que slogans: exige memória, coerência e coragem de recomeçar.