Política e Resenha

ARTIGO – Liberdade de Expressão ou Relativismo Perigoso?

 

 

 

(Padre Carlos)

O recente discurso do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, durante sua posse, reacendeu um debate que deveria estar encerrado em nossa sociedade: a relativização de regimes autoritários e seu impacto sobre a democracia. Ao declarar que defender a ditadura seria um ato protegido pela liberdade de expressão, Melo não apenas causou perplexidade, mas também revelou uma perigosa confusão entre princípios democráticos e a normalização de ideologias antidemocráticas.

Liberdade de expressão é, sem dúvida, um dos pilares das democracias modernas. No entanto, há um limite claro: quando a manifestação de ideias ameaça os próprios fundamentos democráticos, ela deixa de ser um direito legítimo e passa a ser um ataque contra a sociedade. A defesa de ditaduras, seja de direita ou de esquerda, não pode ser encarada como mera opinião, mas como uma afronta à memória de milhares de vítimas desses regimes e um estímulo a práticas que colocam em risco nossas instituições.

Sebastião Melo também comete o equívoco de equiparar o socialismo à ditadura, ignorando as nuances de ideologias políticas e as práticas de diferentes regimes ao longo da história. Reduzir o debate a uma polarização simplista entre socialismo e democracia liberal é não apenas intelectualmente desonesto, mas também perigoso. Tal postura alimenta narrativas que distorcem a história e perpetuam a divisão social.

As reações contrárias de figuras como a deputada Maria do Rosário e a vereadora Natasha Ferreira são não apenas compreensíveis, mas necessárias. É fundamental que líderes políticos sejam responsabilizados por discursos que relativizem crimes contra a humanidade e ataquem os valores democráticos.

Melo, ao fazer tal afirmação, parece ignorar que a liberdade de expressão, em regimes autoritários, inexiste. Ditaduras, por definição, reprimem o direito à palavra, à crítica e ao dissenso. Não há como defender tal regime sem cair em contradição ou, pior, sem desrespeitar a luta de milhões que resistiram a esses períodos sombrios no Brasil e no mundo.

O prefeito de Porto Alegre não apenas erra ao tentar justificar o injustificável, mas coloca em risco sua própria credibilidade política. O Brasil vive um momento delicado, em que consolidar a democracia é uma tarefa contínua. Não há espaço para discursos que relativizem a importância da liberdade e da igualdade de direitos.

Portanto, é nosso dever enquanto cidadãos alertar para os perigos de normalizar falas como essa. Não há democracia sem memória, sem justiça e sem responsabilidade histórica. Defendamos, sim, a liberdade de expressão, mas jamais à custa da verdade e do respeito aos valores que nos unem enquanto sociedade.