Política e Resenha

ARTIGO – Mulheres na Administração das Dioceses: Um Caminho de Competência e Necessidade

 

(Padre Carlos)

Vivemos um tempo de profundas transformações na administração das dioceses, e essas mudanças, em grande parte, refletem uma demanda crescente por maior profissionalismo na gestão dos bens da Igreja. Uma questão que me chamou a atenção recentemente é o número cada vez maior de mulheres, leigas e religiosas, que assumem funções administrativas em dioceses, quebrando paradigmas que, por muito tempo, associaram tais responsabilidades exclusivamente ao clero masculino.

Exemplo emblemático vem de Portugal, onde D. Armando Domingues, bispo de Angra, nomeou a economista Carla Bretão como ecônoma da diocese, sendo a primeira mulher a ocupar essa função na história dessa diocese insular. Esse é um marco não apenas por ser um cargo tradicionalmente ocupado por padres, mas porque simboliza um reconhecimento da competência técnica de uma mulher em um campo onde, há não muito tempo, se acreditava que apenas membros do clero pudessem atuar.

É interessante notar que o Código de Direito Canônico, a lei fundamental da Igreja, estabelece no Cânon 494, parágrafo 1, que o ecônomo diocesano deve ser alguém “verdadeiramente perito em assuntos econômicos” — e não necessariamente um padre. Essa abertura, prevista nas leis da Igreja, agora começa a ser colocada em prática de forma mais ampla, e com razão. A realidade é que a gestão de bens e recursos de uma diocese se tornou algo extremamente complexo, especialmente em tempos de crise econômica e de redução do número de fiéis contribuintes.

A nomeação de mulheres para esses cargos, como no caso de Carla Bretão em Angra ou de outras quatro mulheres nomeadas para cargos semelhantes em dioceses portuguesas, sinaliza uma mudança importante. Não se trata apenas de uma questão de igualdade de gênero, mas de eficiência e competência. São elas, muitas vezes, as mais capacitadas para lidar com as complexidades da administração e gestão financeira que hoje desafiam as dioceses em todo o mundo.

Na realidade brasileira, a presença de mulheres em cargos administrativos de dioceses ainda é discreta, mas isso pode e deve mudar. Temos entre nossas religiosas e leigas muitas pessoas com formação e experiência em gestão, economia e administração, mais do que preparadas para assumir essas responsabilidades com excelência. Muitas vezes, elas possuem maior habilidade técnica do que os próprios padres que ocupam o cargo de ecônomo apenas por convenção ou tradição.

A Igreja Católica tem uma rica tradição de confiar em suas religiosas para missões de extrema responsabilidade, mas a gestão econômica das dioceses tem sido, até pouco tempo, um espaço onde a presença feminina era mínima. No entanto, o cenário atual exige uma revisão dessa prática. As dioceses enfrentam grandes desafios financeiros e, em muitos casos, a solução está em profissionais competentes, independentemente do gênero.

A administração dos bens e patrimônios da Igreja precisa de uma visão moderna e profissionalizada. A ideia de que a função de ecônomo deve ser reservada exclusivamente a um padre se mostra ultrapassada, especialmente quando vemos que muitos sacerdotes carecem das habilidades técnicas necessárias para lidar com a complexidade que essa função exige nos dias de hoje.

Assim, não é surpreendente que dioceses em todo o mundo estejam buscando diáconos permanentes e leigos, e cada vez mais mulheres, para gerenciar seus bens. Elas trazem não apenas competência técnica, mas uma sensibilidade social e comunitária que, muitas vezes, faz falta no clero. Além disso, com o declínio das contribuições financeiras de muitos fiéis, é urgente que a Igreja encontre novas fontes de financiamento e rentabilização de seu patrimônio, algo que exige uma visão administrativa sólida e inovadora.

O que vemos em Portugal pode, e talvez deva, inspirar a Igreja no Brasil. Ao ampliar o campo de atuação para mulheres e leigos nas funções administrativas, a Igreja está não apenas se modernizando, mas também reconhecendo a realidade de um mundo em constante transformação, onde a competência técnica e a capacidade de inovar são essenciais para a sobrevivência econômica das dioceses.

Não estamos falando de uma mudança apenas simbólica, mas de uma necessidade prática. Ao permitir que mulheres assumam funções de liderança na administração diocesana, estamos reconhecendo seu valor, sua competência e, acima de tudo, sua capacidade de contribuir para o fortalecimento da missão da Igreja no mundo. É hora de olharmos para o futuro e abraçarmos a mudança com coragem e sabedoria.

Que o exemplo de Portugal sirva como um farol para que, em todas as nossas dioceses, possamos ver mais mulheres e leigos altamente capacitados assumindo as rédeas da administração e ajudando a Igreja a enfrentar os desafios de nosso tempo.