Política e Resenha

ARTIGO – No Fundo, Somos Sempre Sós (Padre Carlos)

 

 

 

 

Hoje, ao retornar das férias, minha mente foi invadida por reflexões profundas, como se o descanso proporcionasse um olhar renovador sobre as complexidades da vida. Entre os muitos pensamentos que me atravessaram, um deles ganhou destaque: a solidão essencial do ser humano. No fundo, somos sempre sós.

Vivemos cercados por possibilidades de conexões: o amor que nos acolhe, os amigos que nos sustentam e o conforto da família que nos enlaça. São dádivas valiosas, sem dúvida. Contudo, por mais que essas relações tragam sentido à jornada, ninguém pode nos isentar do fardo individual que carregamos. Os pesos da vida são intransferíveis.

Nascemos sozinhos, num processo que é apenas nosso, e morremos igualmente sós, em um mistério que ninguém pode compartilhar plenamente. Mas, antes que isso seja como um lamento, peço que olhemos para essa realidade com outro viés: está tudo bem. Não há tragédia nessa constatação; Há, talvez, uma oportunidade de enxergar a força que reside em nosso eu interior.

É claro que compartilhar uma caminhada com outras pessoas torna a vida mais rica. É maravilhoso rir junto, dividir lágrimas, encontrar suporte e celebrar conquistas. No entanto, precisamos compreender que, nas profundezas da existência, tudo retorna ao mesmo ponto: somos nós conosco.

Essa percepção, longe de ser pessimista, pode ser libertadora. Reconhecer que ninguém nos livrará de nossas dores nos desafiará a assumir a responsabilidade por nossas escolhas, nossos cuidados e nosso crescimento. Em vez de esperar que o outro nos complete, podemos nos fortalecer a partir de dentro.

No fundo, é sempre você. E isso não é um peso, mas uma oportunidade de encontrar em si mesmo uma companhia mais fiel, o diálogo mais honesto e a coragem mais sincera. Porque, ao fim do dia, o único olhar que persiste é o seu, refletido no espelho da alma.

Então, que saibamos valorizar as companhias, os afetos e as trocas humanas, mas também que aprendamos a acolher a solidão como parte do que somos. Afinal, não há nada de errado em estar consigo mesmo. Ao contrário, há uma sabedoria infinita em se bastar.