Não vou aqui discutir o significado do Esporte Clube Bahia para a cultura baiana, para o entretenimento ou para a cultura de uma forma geral. O Bahia é um patrimônio, uma instituição que transcende o esporte, principalmente para a cidade de Salvador. No entanto, é preciso reconhecer que, no interior da Bahia, o clube ainda é relativamente desconhecido. Só após a TV Bahia e a TV Educativa começarem a transmitir os jogos do Campeonato Baiano, é que essa cultura Bahia-Vitória começou a se espalhar pelo interior do estado. Mesmo assim, o futebol no interior da Bahia é limitado a apenas três meses de atividade intensa, e durante o resto do ano, os times do interior praticamente desaparecem da mídia e do imaginário popular.
Isso contrasta de maneira gritante com a realidade de outros países, mesmo os de menor porte e população, como o Uruguai, que com seus 3,5 milhões de habitantes, consegue manter um campeonato nacional robusto e formar uma seleção competitiva no cenário sul-americano. Salvador, que possui uma população equivalente à do Uruguai, ainda não conseguiu desenvolver jogadores locais de destaque para o Bahia ou para o Vitória, o que evidencia uma série de falhas estruturais no futebol da capital baiana e em suas regiões periféricas.
Essa realidade expõe uma incompetência generalizada, que não está restrita apenas aos empresários ou gestores esportivos, mas também à própria formação dos jogadores, que muitas vezes são absorvidos por um sistema que prioriza o lucro imediato ao desenvolvimento de talentos. A cultura esportiva em Salvador, especialmente nas periferias, reflete uma falta de organização que acaba por impedir o surgimento de jogadores competitivos, o que é um reflexo das falhas mais amplas em nossa sociedade.
No que diz respeito ao time do Bahia, temos observado que, embora o clube possua um esquema tático defensivo bem estruturado, ele carece de um ataque eficiente. Isso se reflete na incapacidade do time em converter oportunidades em gols, o que é um problema recorrente. Não adianta ter um atacante de nome se a bola não chega a ele em condições de finalização. O exemplo do Manchester City de Guardiola, que consegue criar oportunidades de gol mesmo sem um centroavante clássico, como Haaland, mostra que é possível fazer ajustes táticos durante a partida para compensar a ausência de um goleador. No entanto, isso requer criatividade e capacidade de leitura de jogo por parte do técnico, qualidades que Rogério Ceni, apesar de sua competência, tem mostrado em menor grau.
Essa falta de flexibilidade tática contrasta com a abordagem de Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, que tem demonstrado uma capacidade impressionante de adaptar seu time às circunstâncias do jogo, mesmo diante de adversidades como expulsões. A capacidade de “virar a chave” durante um jogo é algo que o Bahia precisa desesperadamente, mas que ainda não encontrou em seu comando técnico.
Por fim, a imprensa esportiva baiana tem contribuído pouco para um debate mais profundo e crítico sobre os desafios enfrentados pelo Bahia. A mediocridade dos comentários, muitas vezes focados em aspectos superficiais, impede que questões estruturais sejam discutidas e resolvidas. Uma análise mais crítica e informada por parte da mídia poderia auxiliar na identificação e correção dos problemas que têm impedido o Bahia de alcançar seu pleno potencial.
O Bahia, com toda a sua história e tradição, tem enfrentado dificuldades para se adaptar às exigências do futebol moderno. A transformação para uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) é apenas o começo de um processo que requer mudanças profundas, tanto na estrutura do clube quanto na mentalidade daqueles que o dirigem. A torcida, por sua vez, precisa entender que essas transformações demandam tempo, paciência e um compromisso de longo prazo para que o clube possa, finalmente, retomar seu lugar de destaque no cenário nacional.