O Dia das Crianças, celebrado no Brasil com festas, presentes e uma alegria genuína, nos faz pensar no cuidado e na proteção que devemos ter com nossos jovens. Contudo, no Paraguai, essa data assume uma tonalidade completamente diferente, marcada por uma história de dor e luto. Em 16 de agosto, os paraguaios não comemoram com festividades alegres, mas sim com memórias trágicas da Batalha de Acosta Ñu, ocorrida em 1869, durante a Guerra do Paraguai.
Esse episódio sombrio, onde crianças foram massacradas pelas forças da Tríplice Aliança — composta pelo Brasil, Argentina e Uruguai —, é uma das páginas mais dolorosas da história latino-americana. Jovens e crianças, muitos dos quais mal sabiam manejar armas, foram enviados à linha de frente para defender o que restava de seu país. A guerra já havia dizimado grande parte da população paraguaia, e essa batalha, em especial, deixou uma cicatriz indelével na nação.
Quando refletimos sobre este episódio, fica claro que um exército, que deveria lutar com honra e dignidade, perde sua glória ao cruzar a linha da desumanidade. A matança de civis, especialmente de crianças, é um ato de barbárie que compromete qualquer vestígio de heroísmo. No caso de Acosta Ñu, o que deveria ser uma vitória militar tornou-se um símbolo de vergonha para as forças brasileiras, pois, ao destruir aquilo que deveria proteger — a vida de inocentes —, o exército se afasta dos valores que deveria defender.
É impossível falar da Guerra do Paraguai sem reconhecer a responsabilidade do Brasil nessa tragédia. Embora o conflito tenha sido desencadeado por razões geopolíticas complexas, a maneira como foi conduzido, especialmente nos estágios finais, coloca em questão o que realmente significa vencer uma guerra. A destruição quase total da população paraguaia e a morte de tantas crianças nos faz perguntar: onde está a verdadeira glória?
O Dia das Crianças no Paraguai, então, serve como um lembrete profundo e doloroso do custo da guerra. Ao invés de presentes e brincadeiras, a data é marcada pela memória daqueles que morreram em um conflito brutal e injusto. Para os paraguaios, a infância foi roubada de uma geração inteira, e o impacto desse trauma histórico ainda reverbera na cultura e na identidade do país.
Enquanto o Brasil comemora seu Dia das Crianças no mesmo 12 de outubro que celebra Nossa Senhora Aparecida, talvez seja importante refletir sobre os valores que essas celebrações representam. Será que podemos realmente celebrar nossas crianças e, ao mesmo tempo, ignorar as injustiças que cometemos no passado? Podemos nos orgulhar de nossas vitórias militares, sabendo que elas custaram a vida de inocentes?
O futuro que queremos para nossas crianças depende da nossa capacidade de aprender com os erros do passado. Que o exemplo do Paraguai e a tragédia de Acosta Ñu sirvam de lição para que nunca mais permitamos que o orgulho e a ambição política se sobreponham ao valor inegociável da vida humana. Porque quando um exército envergonha, deixando de lado sua responsabilidade ética, ele não é mais glorioso — é um lembrete de que a verdadeira coragem está em proteger, e não em destruir.