Recentemente, um vereador de Vitória da Conquista surpreendeu a todos ao afirmar que a prefeita Sheila seria a responsável pelo fim do carnaval de rua em nossa cidade. Essa declaração me levou a refletir sobre a verdadeira origem do declínio dessa festividade tão emblemática. A essência do nosso carnaval sempre esteve enraizada nas micaretas, aquelas celebrações espontâneas e populares que, com o tempo, se foram ofuscadas por mudanças estruturais e pela falta de incentivo adequado.
O abandono do carnaval de rua não se iniciou com a gestão atual, mas sim há décadas, quando as micaretas perderam seu espaço e a identidade do evento foi gradualmente diluída. Ao apontar culpados de forma simplista, corre-se o risco de desvirtuar a complexidade de um fenômeno que envolve fatores históricos, sociais e culturais. A última edição organizada pela Prefeitura remonta ao final da década passada, um marco que evidencia o processo de descuido e a ausência de um planejamento que dialogasse com as raízes e tradições locais23.
A revitalização do carnaval passa por uma reconfiguração dos compromissos: é imperativo unir esforços entre o poder público e a iniciativa privada. Empresários e artistas, como o icônico Massinha, poderiam desempenhar um papel crucial nessa empreitada, contribuindo para o resgate de uma festa que, por muito tempo, simbolizou a liberdade, a criatividade e a identidade conquistense. A reconstrução desse patrimônio cultural demanda, além de investimentos, uma mudança de mentalidade que valorize o diálogo e a colaboração, afastando a prática de apontar dedos e alimentando um debate construtivo.
A sociedade, por sua vez, não pode permanecer passiva diante de um cenário que ameaça a memória e a tradição do nosso carnaval. É hora de combater a disseminação de notícias falsas e de fomentar uma cultura de responsabilidade coletiva, onde o foco seja a união para resgatar o brilho e a alegria que sempre caracterizaram nossas ruas. O verdadeiro resgate do carnaval não depende exclusivamente de políticas públicas, mas de uma mobilização que envolva cada cidadão disposto a reconectar-se com suas raízes culturais e a celebrar a diversidade que constrói nossa identidade.
Assim, conclamo todos os envolvidos – autoridades, iniciativa privada e comunidade – a abandonar a retórica de acusações simplistas e a investir em uma nova etapa para o carnaval de rua em Vitória da Conquista. Que possamos, juntos, reconstruir essa tradição, devolvendo à cidade o entusiasmo e a cor que marcaram nossas histórias. A transformação se faz pelo diálogo, pela união e pelo compromisso sincero com a cultura que nos define.
(Padre Carlos)