O governo federal foi obrigado a recuar em mais uma tentativa de apertar o cerco fiscal sobre o cidadão comum. A revogação da instrução normativa que ampliava a fiscalização sobre transações financeiras, incluindo o uso do Pix, não foi um gesto de benevolência, mas uma demonstração clara de que a pressão popular funciona. O povo não é bobo, e a repercussão negativa desta medida deixou isso evidente.
Desde o anúncio da ampliação da coleta de dados sobre operações financeiras realizadas via maquininhas, carteiras digitais e instituições de pagamento, o clima de desconfiança se instalou. A sociedade, já cansada de medidas que oneram desproporcionalmente os mais pobres, reagiu com indignação. Não é de hoje que o peso da máquina fiscal recai sobre quem tem pouco, enquanto grandes fortunas continuam a se beneficiar de brechas e privilégios fiscais.
A justificativa dada pela Receita Federal e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é que a medida visava apenas modernizar a fiscalização e evitar a sonegação. No entanto, o efeito prático seria um aumento da vigilância sobre pequenos comerciantes e trabalhadores autônomos, que hoje dependem do Pix e das maquininhas como principal meio de movimentação financeira. O discurso de combate à sonegação perde credibilidade quando a carga tributária se torna desigual e o foco parece estar sempre no pequeno.
Este episódio revela algo mais profundo: a crescente insatisfação da população com a condução da reforma fiscal. Ao contrário do que se esperava, a tão prometida justiça tributária não chegou. Em vez disso, vimos mais uma tentativa de estender o alcance do Fisco sobre a base da pirâmide econômica. O governo parece ter ignorado o que já deveria ser óbvio: o povo não suporta mais carregar nas costas o peso de um sistema que beneficia poucos em detrimento da maioria.
A estratégia falhou porque encontrou uma sociedade mais atenta, que não se deixa enganar facilmente por discursos técnicos. A promessa de que o Pix não seria onerado e de que o sigilo bancário seria preservado soou como uma tentativa tardia de acalmar os ânimos, depois que o estrago já estava feito. A desinformação e os golpes que surgiram em torno do tema apenas reforçaram a sensação de insegurança e desconfiança nas instituições.
Ao revogar a medida, o governo tenta conter os danos políticos e evitar que a oposição capitalize ainda mais em cima da questão. No entanto, fica a lição de que é preciso dialogar com a sociedade antes de tomar decisões que afetam diretamente a vida das pessoas. A transparência e a justiça fiscal não podem ser meros slogans; precisam ser práticas efetivas.
Se há algo a comemorar neste episódio, é a demonstração de força popular. O povo, que muitas vezes é subestimado, mostrou que está atento, informado e disposto a lutar pelos seus direitos. Que este recuo seja um aviso claro: não haverá paz social enquanto o peso da tributação continuar a recair sobre os que menos podem.
O governo sentiu que não basta ter maioria no Congresso ou bons discursos; é preciso agir com responsabilidade e coerência. Se não quiser enfrentar mais reações como essa, terá que cumprir o prometido e apresentar uma reforma fiscal que cobre mais de quem tem mais e alivie quem já está sobrecarregado. Caso contrário, o recado está dado: o povo não é besta.