Política e Resenha

ARTIGO – O INSS paga, o ladrão agradece e o povo aplaude?

 

(Padre Carlos)

O Brasil é mesmo um país curioso. Aqui, quem rouba dorme tranquilo, e quem paga a conta é sempre o inocente. O último espetáculo dessa tragicomédia foi protagonizado pelo INSS, que anunciou, com pompa e orgulho, que vai devolver R$ 292,7 milhões a aposentados e pensionistas vítimas de descontos indevidos feitos por associações e sindicatos. Muito bonito. Só tem um problema: o dinheiro da devolução não vai sair do bolso dos ladrões. Vai sair do bolso do próprio INSS. Ou seja: do nosso.

É isso mesmo que você leu. Roubaram os aposentados, e o governo, em vez de prender os ladrões e fazer com que devolvam o que afanaram, decide devolver ele mesmo. Tira do caixa do INSS, que já anda falido, para tapar um rombo que foi cavado por outros. Isso, claro, com o nosso dinheiro — o da sociedade que trabalha, que paga imposto, que contribui honestamente esperando um mínimo de justiça.

Os responsáveis por esse rombo? Ah, ninguém sabe direito. Foram associações, sindicatos, entidades com nomes pomposos e objetivos “nobres”, mas que, na prática, agiram como espertalhões de terno e carimbo na mão. Autorizaram descontos que muitos aposentados sequer sabiam que existiam. E como foram autorizados? Mistério. Quando muito, o idoso assinava uma ficha lá em 2003 e nem sabia o que estava assinando.

E agora? O governo diz que “vai resolver”. Como? Dando dinheiro. Mas não o dos culpados. O nosso. Isso é justiça ou é encobrimento? Porque, vamos ser sinceros, se um sujeito rouba minha carteira e o policial me devolve o dinheiro tirando do próprio bolso — ou pior, do bolso do vizinho — e deixa o ladrão solto, qual a lição? Que o crime compensa. E como compensa!

Se essas associações agiram de má-fé, que sejam responsabilizadas. Que devolvam o que pegaram, com juros e correção. Que tenham os bens bloqueados, que seus dirigentes prestem contas à Justiça, que respondam como qualquer cidadão comum responderia. O que não dá é o Estado virar babá de bandido e passar a conta para a sociedade.

Do jeito que está, o aposentado foi assaltado duas vezes. A primeira, pela mão leve dos falsos representantes. A segunda, pelo sistema que, em vez de punir os ladrões, passa o chapéu na cabeça deles e diz: “Fica tranquilo, amigo, o povo paga”.

Não é possível naturalizar esse tipo de coisa. Se deixarmos passar, amanhã roubam de novo. E aí devolvem de novo. E o ciclo segue. Com o criminoso rindo, o aposentado chorando e o governo achando bonito.

Não queremos um país onde o Estado se ajoelha diante do erro. Queremos um onde ele aponte o dedo para o culpado e diga: “Você vai pagar”. Porque senão, meu caro, não é só o dinheiro que estamos perdendo. É a vergonha na cara.