Política e Resenha

ARTIGO – O Mistério da Transição Papal: Da Morte ao “Habemus Papam”

 

(Padre Carlos)

Quando um Papa morre, a Igreja não apenas chora a perda de seu pastor universal, mas mergulha num rito milenar que entrelaça fé, história e silêncio. Poucas instituições no mundo preservam um protocolo tão carregado de simbolismos como o Vaticano, e a transição entre papas é uma verdadeira ópera teológica encenada com solenidade.

Tudo começa com o gesto singelo e dramático do Camerlengo, que se aproxima do corpo do Pontífice falecido e o chama três vezes pelo nome de batismo. Diante do silêncio da morte, declara: Vere Papa mortuus est — “Verdadeiramente, o Papa está morto”. Em seguida, o anel do pescador, símbolo da autoridade petrina, é destruído, para que nenhum documento possa ser falsamente legitimado em seu nome.

O corpo é então preparado e velado — primeiro de forma privada e depois pública, com três dias de exposição na Basílica de São Pedro. Ali, multidões silenciosas passam diante do caixão, não apenas como fiéis devotos, mas como uma Igreja em oração pelo seu pastor.

Durante nove dias, as Missas dos Novendiales são celebradas, um lamento litúrgico que ecoa pelos séculos. Paralelamente, inicia-se a Sede Vacante, tempo em que o poder espiritual supremo repousa em suspenso. Nenhuma decisão doutrinária pode ser tomada. O mundo católico, nesse ínterim, reza e espera.

No coração do Vaticano, a Capela Sistina é selada. Ali, em silêncio profundo, os cardeais eleitores — todos com menos de 80 anos — iniciam o Conclave. A palavra vem do latim cum clave, “com chave”, pois literalmente estão trancados até que o Espírito Santo inspire uma decisão. Até quatro votações por dia são possíveis. Após cada escrutínio sem êxito, fumaça preta. Quando enfim um nome alcança os dois terços exigidos, a fumaça branca sobe: o mundo inteiro compreende o sinal. O sucessor de Pedro foi escolhido.

Na sacada da Basílica de São Pedro, o Cardeal Protodiácono pronuncia as palavras que fazem tremer a Cidade Eterna: Habemus Papam. E o novo Bispo de Roma surge. Humilde, em branco, abençoa a multidão que o aclama como “Pai”.

Neste tempo em que rumores e esperanças circulam entre os fiéis e nos corredores do Vaticano, nomes como Luis Antonio Tagle, Matteo Zuppi e Pietro Parolin se destacam. Cada um com sua trajetória, cada um com um rosto do futuro possível da Igreja. Tagle, da Ásia, representa uma Igreja missionária e pobre. Zuppi é o perfil da caridade ativa. Parolin carrega o peso da diplomacia e da tradição.

Mas mais que perfis, o que se espera é um coração aberto a Deus, um homem de oração, capaz de escutar o sopro do Espírito em meio às tempestades do nosso tempo. E talvez seja por isso que o conclave permanece como um dos momentos mais fascinantes e misteriosos da vida da Igreja: porque ali, no silêncio, se escolhe um sucessor de pescador.

O mundo espera. E a Igreja reza. Como sempre fez.