Em um cenário em que a política econômica tem se mostrado cada vez mais polarizada, é impressionante como algumas figuras públicas se dedicam a propor soluções que sacrificam os mais vulneráveis. A questão não é apenas a escassez de recursos, mas a forma como as alternativas para cortar despesas estão sendo apresentadas. A realidade é dura e contraditória: enquanto se discute um pacote de cortes, ele se reflete diretamente na redução de direitos fundamentais da população, como saúde, educação e aposentadoria.
Em um país com imensas desigualdades sociais, a proposta de cortar a saúde e a educação é, no mínimo, irresponsável. Estamos falando de um Brasil em que milhões de brasileiros dependem do SUS para sobreviver, e em que a educação pública ainda é a única alternativa de ascensão social para grande parte da população. Não há como aceitar cortes nessas áreas sem comprometer o futuro do país.
Além disso, a ideia de diminuir o valor do salário mínimo e cortar as aposentadorias é uma afronta aos direitos adquiridos por milhões de trabalhadores que dedicaram suas vidas para construir o que temos hoje. O aumento do salário mínimo, ainda que modesto, representa uma válvula de escape para muitas famílias em situações precárias. Cortá-lo, ou sequer deixar de conceder reajustes reais, significa aprofundar ainda mais a miséria e a desigualdade social. E, por que não dizer, é um ataque direto à dignidade humana.
Quem é que tem coragem de dizer, abertamente, o que está por trás dessas propostas? Se alguém chegar ao poder com uma plataforma que propõe o corte da saúde, da educação e das aposentadorias, seria interessante ver se ele terá coragem de afirmar, em alto e bom som, que não há espaço para um aumento real do salário mínimo, que a idade da aposentadoria será aumentada, que a segurança social estará em risco. Esse é o ponto: nenhum candidato ousaria prometer isso, porque sabe que é impopular e, ao mesmo tempo, uma total falta de compromisso com o povo.
O que realmente está em jogo não é uma questão técnica de cortes fiscais, mas um jogo político disfarçado de “responsabilidade fiscal”. E o resultado disso? Só quem paga o preço é a população mais vulnerável, aqueles que não têm sequer a chance de lutar por seus direitos.
É um verdadeiro jogo de esconde-esconde. Alguns falam em cortar “despesas”, mas o que eles realmente querem é cortar o que mantém o mínimo de dignidade para o povo brasileiro. E, pior, querem fazer isso sem a coragem de dizer claramente o que estão propondo. Eles preferem esconder-se atrás de uma cortina de promessas vazias, alegando que é necessário cortar, quando, na verdade, querem sacrificar as camadas mais pobres da sociedade.
Por fim, vemos que há uma torcida pela execução de um programa que já foi rejeitado nas urnas, um programa que não ganhou a eleição, mas que continua sendo, de alguma forma, desejado por alguns candidatos. Não há no discurso de muitos políticos a coragem de assumir que essas medidas não são apenas ajustes econômicos, mas escolhas políticas que visam desmantelar o pouco que foi conquistado para os mais necessitados.
A verdadeira pergunta é: quem de fato está disposto a colocar o martelo na cabeça do pobre e dizer que ele não merece mais nada? A resposta é clara: quem não tem compromisso com o povo. Quem quer cortar direitos sem pensar nas consequências sociais. Quem quer ser aplaudido por aqueles que não sentem o impacto dessas decisões. E o povo, como sempre, paga a conta.
Padre Carlos