Política e Resenha

ARTIGO – O Pão que Desceu do Céu e a Busca pela Verdadeira Vida

 

(Padre Carlos)

No Evangelho de João 6, 41-51, nos deparamos com uma cena emblemática onde Jesus declara: “Eu sou o pão que desceu do Céu.” Essa afirmação provocou murmúrios entre os judeus, que não conseguiam reconciliar a origem humana de Jesus, filho de José, com sua alegação de ter vindo do Céu. Esta passagem nos oferece uma profunda reflexão teológica sobre a identidade de Cristo e o significado do pão da vida.

A murmuração dos judeus reflete uma resistência comum ao longo da história: a dificuldade de enxergar o divino no ordinário. Jesus, filho de um carpinteiro, conhecido de todos, apresenta-se como o alimento espiritual essencial para a humanidade. A incredulidade dos judeus, questionando a origem celestial de Jesus, revela uma cegueira espiritual que ainda persiste em muitos corações nos dias de hoje.

Jesus não desiste de seus interlocutores. Ele aprofunda seu ensinamento ao afirmar que ninguém pode vir a Ele se não for atraído pelo Pai. Essa atração divina não é forçada, mas sim uma obra de amor e de graça, que respeita a liberdade humana, mas que, ao mesmo tempo, convida a um encontro transformador com a verdade.

A figura do pão, central nesta passagem, tem um significado rico. No deserto, os antepassados dos judeus comeram o maná, um pão temporário que os sustentou fisicamente, mas não pôde evitar a morte. Agora, Jesus se apresenta como o pão vivo, o verdadeiro maná, que não apenas sustenta, mas oferece a vida eterna. O pão que Ele dá é sua própria carne, em um claro anúncio da Eucaristia, onde Cristo se dá inteiramente para a salvação do mundo.

Esta passagem nos desafia a ir além das aparências e a reconhecer em Jesus o alimento espiritual que sacia a fome mais profunda do ser humano. Ela nos chama a uma fé que transcende a lógica mundana e nos abre para a realidade do mistério de Deus.

Em um mundo que busca respostas rápidas e soluções fáceis, o convite de Jesus é para que nos alimentemos dele, o pão vivo, e encontremos nele a verdadeira vida. A Eucaristia, onde recebemos o corpo de Cristo, é o ponto culminante desse encontro, onde somos transformados e nutridos para a vida eterna.

O Evangelho de João nos convida, portanto, a uma conversão do coração, a uma abertura para o mistério de Deus revelado em Jesus Cristo. Que possamos acolher esse pão que desceu do Céu e, ao comungar de sua carne, participar da vida plena e eterna que Ele nos oferece.