Política e Resenha

ARTIGO – O Papa que Andou Descalço Sobre a História

 

 

(Padre Carlos)

O Papa Francisco rompeu a tradição não apenas nos gestos visíveis, mas no espírito profundo com que decidiu exercer seu ministério. Desde o instante em que apareceu na varanda de São Pedro, sem os adornos da pompa vaticana, foi como se o Evangelho ganhasse carne novamente, diante de uma multidão estarrecida. Não foi apenas uma escolha estética, mas uma declaração teológica: o Papa é, antes de tudo, o bispo de Roma, irmão entre irmãos.

Essa linha de simplicidade radical atravessou todo o seu pontificado. Ao rejeitar os títulos históricos em favor da essência de sua missão, Francisco desafiou séculos de uma cultura eclesiástica acostumada à formalidade e à distância. O seu testamento espiritual, reafirma esse caminho de despojamento: quiz ser sepultado no chão, junto ao ícone da Virgem “Salus Populi Romani”, com apenas uma inscrição: “Franciscus”.

Francisco não apenas pregou sobre a humildade; viveu-a em cada detalhe, tornando sua liderança um convite permanente à Igreja para despir-se do que é supérfluo e reencontrar a força na pobreza do Evangelho. Mesmo depois de sua partida, sua opção por um túmulo discreto foi mais eloquente do que monumentos de mármore ou cúpulas douradas. Será pra toda a história da Igreja  a memória viva de um Papa que, ao invés de reinar, escolheu servir. Que caminhou entre nós com a leveza dos que sabem que o poder não está na imponência, mas na ternura.