(Padre Carlos)
Concordo integralmente com a afirmação de que o pior do Brasil está na política brasileira. Pode parecer duro dizer isso, mas é a mais pura constatação empírica da realidade nacional. Em todos os segmentos organizados da nossa sociedade, mesmo nos que vivem em crise crônica — como a saúde, a educação e o Judiciário — ainda conseguimos perceber lampejos de dignidade, competência e até, por vezes, de genialidade. Mas na política institucionalizada, essa centelha é uma raridade quase extinta.
A saúde pública, com todos os seus escândalos de má gestão e filas intermináveis, ainda consegue produzir heroísmos diários nas mãos de médicos, enfermeiros e agentes de saúde. A educação pública, mesmo sucateada, ainda é sustentada por professores que resistem, que educam contra tudo e contra todos. O Judiciário, com sua lentidão, seus privilégios e suas distorções, ainda nos devolve, em certos casos, a esperança de justiça. Todos esses setores são bombas-relógio, mas ainda são menos perigosos que o míssil teleguiado da má política brasileira.
A política brasileira não está apenas doente — ela está contaminada, em estado de septicemia moral. A desfaçatez, a falta de compromisso com o povo, o descolamento da realidade, a guerra de narrativas em vez de soluções, tudo isso constitui uma engrenagem que não funciona, não se renova e não presta contas a ninguém. A sensação generalizada é que se tornou um projeto de poder contínuo, onde o povo é apenas um pretexto para ocupação de cargos, distribuição de verbas e perpetuação de grupos.
Nosso povo, por mais sofrido que seja, é trabalhador, criativo e generoso. Se olharmos para o Brasil profundo — aquele das comunidades, das roças, das periferias, das feiras — encontraremos mais ética, mais empatia e mais capacidade de organização social do que em muitos plenários e gabinetes parlamentares.
A crise da política é, portanto, mais do que uma crise funcional: é uma crise moral. E se queremos que o Brasil reencontre seu rumo, é nesse campo que a revolução precisa acontecer. Precisamos de uma política à altura do povo brasileiro — e não um povo sendo rebaixado à mediocridade da política que aí está.
