(Padre Carlos)
Quando os nazistas ocuparam a França, o mundo se dividiu entre quem resistia e quem se calava. Milhares de franceses viraram o rosto enquanto seus vizinhos judeus eram capturados, deportados e assassinados. A neutralidade — esse terreno confortável onde se refugiam os omissos — foi a roupa que muitos vestiram para não enxergar o horror.
Hoje, o que vemos em Gaza ecoa essa mesma lógica: um povo encurralado, bombardeado, desumanizado. Famílias inteiras soterradas, crianças mutiladas, hospitais transformados em alvos. E, no entanto, o mundo assiste calado, como quem vê um documentário histórico em tempo real, sem coragem de intervir.
A indiferença que marcou parte da sociedade francesa diante do Holocausto se reproduz agora na forma como muitos governos, mídias e até cidadãos comuns tratam a tragédia palestina. A chamada “neutralidade diplomática” tornou-se escudo para a conivência. Mas, diante do sofrimento, quem se diz neutro está apenas escolhendo o lado do opressor.
O Estado de Israel, com apoio explícito das potências ocidentais, perpetua uma política de cerco e extermínio que já deixou dezenas de milhares de mortos em Gaza. E a pergunta incômoda permanece: será que o mundo só aprendeu a lição do Holocausto na teoria?
O que justifica nosso silêncio agora? Que valores são esses que relativizam a vida com base no passaporte, na fé ou no lado do muro onde se nasceu?
A omissão não é imparcialidade. É cumplicidade. E quando, no futuro, nossos filhos estudarem essa época, terão o direito de nos perguntar: por que vocês não fizeram nada?