*(Padre Carlos)*
No cenário político brasileiro, onde a confiança nas instituições democráticas é constantemente posta à prova, o recente caso envolvendo a pré-candidata Lúcia Rocha levanta questões cruciais sobre os limites da liberdade de expressão e a rigidez das regras eleitorais. A multa de R$ 5 mil aplicada pela Justiça Eleitoral por propaganda antecipada não é apenas um revés para uma campanha, mas um sinal de alerta para todos os atores políticos e, mais importante, para a sociedade brasileira como um todo.
A legislação eleitoral, em sua essência, busca garantir um campo de jogo nivelado para todos os candidatos. No entanto, na era das redes sociais e da comunicação instantânea, a linha que separa a legítima apresentação de um pré-candidato da propaganda eleitoral tornou-se perigosamente tênue. O caso de Lúcia Rocha exemplifica perfeitamente este dilema moderno.
As frases proferidas por Rocha – “podem contar comigo” e “nós precisamos de pessoas como Lúcia Rocha” – parecem, à primeira vista, inofensivas declarações de intenção. Contudo, sob o escrutínio da lei, elas se transformam em potenciais ameaças à equidade eleitoral. Esta interpretação rigorosa da lei levanta uma questão incômoda: estamos sacrificando o diálogo político aberto no altar da igualdade formal?
É inegável que regras claras são necessárias para prevenir abusos e garantir que o poder econômico ou a máquina pública não sejam usados para distorcer a vontade popular. A intenção é proteger o processo democrático, assegurando que todos os candidatos tenham as mesmas oportunidades de expor suas ideias e conquistar eleitores. No entanto, a aplicação estrita dessas regras pode, paradoxalmente, restringir a liberdade de expressão e o debate político.
A era digital amplificou este dilema. Com a rapidez das redes sociais e a constante interação entre políticos e eleitores, distinguir entre comunicação legítima e propaganda ilegal tornou-se um desafio monumental. Vídeos, postagens e declarações podem rapidamente ultrapassar os limites estabelecidos pela legislação, mesmo quando não há intenção explícita de violar as regras.
Em conclusão, o debate sobre propaganda eleitoral antecipada nos convida a refletir sobre o que realmente queremos proteger em nossa democracia. Queremos igualdade de condições, mas não ao custo do silêncio imposto aos pré-candidatos. Queremos justiça eleitoral, mas não ao preço da liberdade de expressão. Encontrar esse equilíbrio é crucial para fortalecer a confiança nas instituições e garantir que o processo eleitoral seja, ao mesmo tempo, justo e vibrante.
—