Política e Resenha

ARTIGO – *O Virtual e a Realidade da Classe Média Brasileira* (Padre Carlos)

 

 

 

O conceito de “virtual” no contexto moderno é mais do que apenas a ideia de algo intangível, de algo que não podemos tocar ou sentir fisicamente. Ele se estende para um espaço onde a classe média, e boa parte da sociedade, projeta seus desejos, angústias e realizações que, muitas vezes, contrastam brutalmente com a realidade que a rodeia.

A classe média brasileira, em grande parte, vive em um mundo virtual, onde se conectam via redes sociais, trocam mensagens eletrônicas, riem de memes, e se envolvem em debates que, paradoxalmente, podem não refletir as preocupações mais urgentes de quem está ao seu redor. Enquanto isso, a realidade, especialmente para aqueles à margem dessa sociedade conectada, é brutal e implacável. Como no relato do menino que vive em um mundo “virtual” de fome e abandono, mas que ainda consegue sonhar com uma vida melhor, muitos no Brasil sobrevivem em uma realidade onde as dificuldades são maquiadas por uma camada de digitalização e desconexão emocional.

Esse “virtual” se torna uma forma de fuga, uma maneira de evitar enfrentar as duras verdades que se desenrolam nas ruas, nas favelas, e até mesmo nas periferias digitais onde se encontram as vidas que não têm a visibilidade que o mundo conectado oferece.

O grande desafio para a classe média, especialmente em um país tão desigual como o Brasil, é reconhecer que o “virtual” não deve ser uma forma de alienação, mas sim um espaço para gerar empatia, para entender as realidades diferentes e para mobilizar ações concretas. O mundo virtual pode ser uma ferramenta poderosa para transformação, mas apenas se usado como um ponto de partida para mudanças reais e tangíveis.

Estamos, muitas vezes, tão mergulhados em nossas bolhas virtuais que esquecemos de olhar ao redor e perceber as necessidades daqueles que não têm voz, daqueles que, como o menino da história, vivem uma vida de privação, mas que ainda têm esperança, um sonho que, para eles, é tão virtual quanto para nós as mensagens que trocamos todos os dias.

A verdadeira transformação do país não virá enquanto continuarmos presos a este “virtualíssimo insensato” que nos impede de agir. Precisamos sair do virtual, tocar a realidade com mãos, corações e mentes abertas, e começar a transformar essa realidade em algo que possamos todos orgulhosamente chamar de nosso país.