Política e Resenha

ARTIGO – Oito Anos: O Poema de Casimiro de Abreu e Minha Infância na Pituba (Padre Carlos)

 

 

 

Quem nunca olhou para trás com saudade de uma infância perdida nas cores do tempo? Casimiro de Abreu, com seu poema “Meus Oito Anos”, captura essa nostalgia de forma universal. Suas palavras são como uma viagem para aqueles dias simples e puros, em que a vida se resumia ao encanto das pequenas descobertas e ao aconchego familiar. Lendo este poema, não posso deixar de lembrar da minha própria infância no Bairro da Pituba, na Salvador do início dos anos 60.

Naquele tempo, o mundo se limitava ao quintal de casa e à praia que parecia infinita aos meus olhos infantis. Havia as bananeiras de meu pai, plantadas com um cuidado que me ensinou a respeitar a terra, mesmo sem entender a profundidade desse gesto na época. Eram verdes e frondosas, sombras que dançavam ao vento e alimentavam sonhos de aventura. A casa de veraneio, que minha família tomava conta, era um refúgio de alegrias simples, onde cada canto parecia esconder uma nova brincadeira.

Casimiro fala dos “sonhos idos”, e eu vejo, nas suas palavras, as tardes quentes passadas com os amigos de infância na praia. Aquele mar da Pituba, tão diferente de hoje, não tinha os prédios que agora cercam a orla. Era vasto e convidativo, como se estivesse ali apenas para nós. Entre risos e brincadeiras, construíamos castelos de areia que o tempo e as ondas levavam, mas que, no coração, permaneciam intactos.

Como no poema de Casimiro, em minha infância, a felicidade era quase uma obrigação. Bastava correr pela areia, sentindo o sol e o vento no rosto, ou colher uma fruta do quintal de casa. Não havia o peso do mundo, apenas a certeza de que o amanhã traria mais um dia igual, repleto de descobertas e brincadeiras.

Hoje, ao revisitar essas memórias, percebo que aqueles dias foram uma espécie de poema vivo, escrito com a simplicidade do cotidiano e a profundidade das relações humanas. Assim como o poeta, também me pergunto para onde foi aquela pureza, aquela alegria tão despretensiosa. Talvez ela ainda viva, em algum lugar dentro de mim, na memória de um bairro que, de certa forma, moldou quem sou hoje.

“Meus Oito Anos” é mais que um poema; é um convite a olhar para trás e reconhecer as raízes que nos formaram. A minha estão na Pituba da década de sessenta, entre bananeiras, amigos e o mar, assim como Casimiro encontrou as suas nas paisagens da sua infância. Ambos, no fim, falamos de saudade — uma saudade boa, daquilo que nunca se perde, mesmo que o tempo tente apagar.