(Padre Carlos)
O PSD, desde sua criação em 2011 por Gilberto Kassab, tem seguido uma trajetória curiosa no cenário político nacional. Kassab, ex-prefeito de São Paulo, defendia que o partido não seria “nem de esquerda, nem de direita”, mas sim uma força política “a favor do Brasil”. A identidade política “fluida” do PSD permitiu que a legenda se tornasse uma das mais influentes do país, com uma presença adaptável que facilmente se integra a coalizões de governo, independentemente da ideologia dominante.
Com mais de uma década de atuação, o PSD consolidou sua posição ao lado do bloco conhecido como “centrão” e, dessa forma, conseguiu se estabelecer como uma peça-chave na estrutura de poder no Brasil. Isso não ocorreu por acaso: o partido encontrou uma fórmula de sobrevivência e expansão que passa pela formação de alianças com partidos de diferentes espectros, como MDB, PP, União Brasil e Republicanos. Esse pragmatismo político, que alguns podem enxergar como falta de identidade, permitiu ao PSD ser um dos principais vencedores das eleições municipais recentes, conquistando um impressionante total de 887 prefeituras.
A prática de alianças com múltiplos partidos é, na visão de Kassab, “natural”. Para ele, a maioria das coligações com partidos de centro reflete uma postura estratégica de abertura ao diálogo e à negociação. No entanto, as críticas sobre a flexibilidade ideológica do PSD também revelam como esse pragmatismo beneficia a legenda — tanto em cargos quanto em alcance. Afinal, a máxima de que “o partido é de diálogo” serve também de porta de entrada para lideranças locais que buscam espaço político em contextos específicos.
O Caso de Quinho e o Cenário em Vitória da Conquista
Um exemplo vivo dessa estratégia está em José Henrique Tigre, conhecido como Quinho, presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB) e atual prefeito de Belo Campo. Quinho é uma figura que conhece bem a política local e sabe se posicionar, tanto que recentemente surpreendeu a todos ao espalhar outdoors em Vitória da Conquista parabenizando a cidade pelos seus 184 anos de emancipação política. Esse gesto, visto por muitos como uma movimentação para expandir seu alcance, tem clara intenção de preparação para uma futura candidatura em Conquista.
O projeto de Quinho é mais do que apenas parabenizar a cidade. Ele vê Vitória da Conquista como um polo estratégico, com potencial em saúde, educação e infraestrutura, e já tem planos de se estabelecer eleitoralmente na cidade a partir de 2028. Sua habilidade em construir alianças e estabelecer uma imagem forte ficou evidente quando conseguiu eleger sua esposa como a segunda vereadora mais votada de Vtória da Conquista, o que indica seu poder de influência e organização política.
A postura de Quinho também traz à tona as fragilidades do projeto de esquerda que governou Vitória da Conquista por duas décadas. Com o desgaste natural do PT e a falta de renovação de suas lideranças, o eleitorado local parece inclinado a buscar novas alternativas políticas, o que, segundo Quinho, é uma abertura para nomes mais alinhados com o centro e a centro-direita.
O Futuro da “Identidade Flutuante”
O PSD se posiciona como um partido de “diálogo”, mas isso também significa um compromisso flexível com os interesses locais e nacionais, desde que esteja envolvido na máquina pública. Para o partido, a ambição por cargos e representatividade sempre pesará mais do que qualquer alinhamento ideológico específico. Em um cenário de transformação no campo político, o PSD consegue se beneficiar dessa adaptabilidade ao ponto de continuar a expandir suas bases de apoio, como evidencia o caso de Quinho.
O que essa postura traz para o futuro? A prática de Kassab e seus correligionários indica que, para o PSD, o importante é estar sempre “a favor do Brasil” — mesmo que isso signifique estar em lados distintos do espectro ideológico ao longo do tempo. Para figuras como Quinho, esse modelo possibilita construir carreiras políticas sólidas e, acima de tudo, prontas para avançar em momentos de mudança de direção. Ao planejar sua entrada na disputa por Vitória da Conquista em 2028, Quinho sinaliza uma estratégia ousada e alinhada com o modus operandi do partido.
Em tempos de política volátil e de redefinições constantes, o PSD segue como uma sigla em expansão, adaptando-se às demandas regionais e nacionais sem compromisso com um lado específico do espectro. Esse pragmatismo continuará sendo uma vantagem, especialmente em locais como Vitória da Conquista, onde a busca por renovação parece favorecer exatamente o tipo de político que, sem rótulos rígidos, transita em diversas áreas de interesse.