No Brasil, a liberdade religiosa é um direito sagrado, uma expressão da pluralidade e da tolerância que são marcas indeléveis da nossa democracia. No entanto, quando líderes religiosos utilizam sua posição de influência para promover agendas políticas que ameaçam o Estado de Direito e as instituições democráticas, torna-se necessário questionar os limites dessa liberdade e o papel desses pastores na sociedade.
O pastor Silas Malafaia, figura polêmica e central em várias manifestações políticas nos últimos anos, mais uma vez se destaca ao convocar uma manifestação para o dia 7 de setembro, na Avenida Paulista, em São Paulo, com o objetivo de pressionar pelo impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Esse evento, que deverá contar com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados, é mais uma demonstração de como certos líderes religiosos estão utilizando sua plataforma para desestabilizar o governo e as instituições democráticas do país.
A convocação de uma manifestação desse tipo não é apenas uma expressão do direito à liberdade de expressão, mas um movimento orquestrado que visa enfraquecer uma das principais instituições da nossa República: o Supremo Tribunal Federal. Ao pedir o impeachment de Alexandre de Moraes, Malafaia e seus seguidores pretendem minar a autoridade de um magistrado que tem se destacado na defesa da legalidade e no combate às práticas antidemocráticas que marcaram os últimos anos do governo Bolsonaro.
É preciso refletir sobre o impacto que ações como essa têm sobre a sociedade. Quando líderes religiosos, que deveriam promover a paz, a justiça e a harmonia, incitam seus seguidores a questionar as instituições fundamentais da democracia, eles não estão apenas exercendo seu direito à livre expressão; estão colocando em risco a própria estabilidade do Estado. Em qualquer outro país onde o Estado de Direito é respeitado, ações desse tipo seriam vistas como uma ameaça à ordem pública e poderiam resultar em consequências legais para os responsáveis.
O uso da fé como ferramenta política não é novo, mas torna-se especialmente perigoso quando combinado com discursos que incitam o ódio e a intolerância. Malafaia e outros pastores que seguem essa linha utilizam sua influência para promover uma agenda que vai além das preocupações espirituais e entra no campo da manipulação política. Eles mobilizam seus fiéis não para o bem comum, mas para alcançar objetivos pessoais e políticos que, muitas vezes, estão em desacordo com os valores cristãos que afirmam defender.
A pressão sobre o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para que inicie o processo de impeachment contra um ministro do STF, é um exemplo claro de como esses pastores estão dispostos a ir além das suas responsabilidades espirituais para influenciar diretamente o curso da política nacional. Essa tentativa de interferir no funcionamento das instituições democráticas deve ser vista com extrema preocupação, pois abre um precedente perigoso para a nossa democracia.
Além disso, a presença de figuras políticas como Jair Bolsonaro, Magno Malta, Nikolas Ferreira e Gustavo Gayer, todos conhecidos por seus discursos inflamados e contrários ao Supremo Tribunal Federal, apenas reforça a natureza política e partidária dessa manifestação. Esses líderes, ao se aliarem a figuras religiosas como Malafaia, demonstram um alinhamento que coloca em risco a separação entre Igreja e Estado, um princípio fundamental para o equilíbrio democrático.
A liberdade de religião e de expressão são pilares da nossa sociedade, mas, como qualquer outro direito, elas não são absolutas. Quando usadas para incitar o ódio, a intolerância e a desestabilização das instituições democráticas, essas liberdades se transformam em armas perigosas. É fundamental que a sociedade brasileira esteja atenta a essas movimentações e que as autoridades responsáveis tomem as medidas necessárias para proteger a integridade do nosso sistema democrático.
A democracia brasileira é jovem e enfrenta desafios constantes. É dever de todos os cidadãos, incluindo os líderes religiosos, defender e fortalecer as instituições que garantem nossa liberdade e nossos direitos. Quando pastores como Silas Malafaia usam sua plataforma para promover a desordem e a instabilidade, eles traem não apenas os princípios democráticos, mas também os valores cristãos que afirmam representar. É hora de reafirmarmos nosso compromisso com a democracia, com a justiça e com o Estado de Direito, resistindo a qualquer tentativa de subverter essas conquistas fundamentais