É sempre mais fácil culpar o passado. Mas há momentos em que a história exige coragem para olhar o presente com a mesma lupa crítica. O Brasil acaba de alcançar o posto de terceira maior taxa real de juros do mundo: 8,65%. Uma medalha que ninguém quer pendurar no peito, mas que ilustra, com clareza cirúrgica, o abismo entre discurso e realidade.
O governo que chegou ao poder prometendo enfrentar o “rentismo” agora convive passivamente com uma Selic que sobe, enquanto o Banco Central atua como se estivesse sob outra Constituição. O que mudou desde então? Nada — a não ser o lado de quem governa. E isso explica o silêncio ensurdecedor de setores da esquerda, antes aguerridos contra a política monetária, hoje complacentes, acomodados ou constrangidos.
Durante o governo anterior, era comum ver artigos, protestos e discursos inflamados sobre como os juros estrangulavam o povo. A Selic alta era símbolo de insensibilidade social. Agora, sob nova direção, com inflação projetada em 5,35%, aceitamos taxas reais superiores a 8% como se fossem inevitáveis. Atualmente, a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, está fixada em 14,75% ao ano. Essa decisão foi tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na reunião de 7 de maio de 2025, representando um aumento de 0,50 ponto percentual em relação à taxa anterior de 14,25% . A retórica combativa sumiu. Os economistas que antes apareciam com gráficos e indignação agora falam em “maturidade institucional” — um eufemismo para inércia política.
A verdade é que a esquerda está devendo explicações. Ou mentiram quando disseram que era fácil baixar os juros, ou perderam a batalha para o sistema financeiro e preferem não confessar. Ambos os cenários são graves. A independência do Banco Central, em tese um avanço, se tornou uma blindagem que esvazia a soberania popular sobre temas fundamentais da vida econômica.
E o povo? Continua pagando juros impagáveis, financiando um Estado que não entrega, e sustentando uma elite que ganha na especulação. A alta da Selic é, sim, um dado técnico. Mas o silêncio diante dela é político. E, como tal, deve ser denunciado.
No fim das contas, a matemática venceu a narrativa. Mas não precisava ser assim.