Política e Resenha

ARTIGO – Quando o navio faz água, os ratos são os primeiros a saltar (Padre Carlos)

 

 

A cena é antiga e recorrente: um navio começa a fazer água e os primeiros a saltar são os roedores. Não por um instinto de preservação nobre, mas por oportunismo puro. O poder, esse imã irresistível, atrai não apenas os que querem servir ao público, mas sobretudo os que querem servir-se dele. Quando as coisas vão bem, todos se acotovelam no convés. Mas basta o casco ranger ou a maré virar que a debandada começa.

 

Lembro de Geddel Vieira Lima, nos seus dias de glória, vociferando um sonoro “Fora PT!” no Porto da Barra, como se quisesse apagar com berros um passado de alinhamento e conchavos. A política baiana, como a brasileira, tem dessas tragicomédias. Agora, vejo o noticiário sobre o prefeito de Ilhéus, Valderico Jr., sendo assediado pelo Palácio de Ondina, e francamente, não me surpreendo.

 

Valderico Jr., eleito pelo União Brasil e até então parte da tropa de choque de ACM Neto, parece já estar com o colete salva-vidas afivelado. Enquanto Jerônimo Rodrigues estende tapetes vermelhos, muitos prefeitos da oposição começam a revisar seus roteiros. Essa movimentação, vendida como “diálogo institucional”, tem cheiro de cooptação e gosto de deslealdade.

 

A política é feita de interesses — essa é uma verdade amarga. Mas o que temos testemunhado vai além da política pragmática: é oportunismo rasteiro

Jerônimo joga com a força de quem está no Palácio, mas também com a esperteza de quem sabe seduzir. A máquina pública, mesmo combalida, ainda tem seus encantos. E muitos gestores municipais, com mandatos frágeis e vaidades infladas, se rendem sem resistência.

 

É preciso, no entanto, separar os oportunistas dos coerentes. Quem muda de lado por convicção deve ser respeitado. Quem o faz por conveniência, merece o juízo da história. Prefeitos que trocam de camisa conforme o vento não servem à democracia — servem apenas ao próprio umbigo.

 

A Bahia merece lideranças que não se apequenem diante das dificuldades. A política precisa reencontrar a honra. E a oposição, se quiser sobreviver, precisará mais do que líderes carismáticos: precisará de coerência, de firmeza e de coragem para resistir ao canto das sereias palacianas.