Política e Resenha

ARTIGO – Quem Muito Ama, Muito Perdoa, Não se Fecha, Sai ao Encontro

 

(Padre Carlos)

A liturgia deste IV Domingo da Quaresma nos conduz ao coração do Evangelho: o amor incondicional de Deus, que se revela na misericórdia e no perdão. A Primeira Leitura (Js 5,9a.10-12) nos recorda o povo de Israel celebrando a Páscoa pela primeira vez na Terra Prometida. O maná cessou, pois Deus já os havia conduzido à abundância. Hoje, para nós, a Eucaristia é esse alimento que sustenta nossa caminhada rumo à eternidade.

Na Segunda Leitura (2Cor 5,17-21), São Paulo nos exorta a olhar para frente, pois, em Cristo, somos novas criaturas. Ele mesmo, outrora perseguidor dos cristãos, experimentou o amor que transforma e perdoa. Por isso, ele avança sem olhar para trás, consciente de que a misericórdia de Deus sempre reescreve nossa história.

O Evangelho (Lc 15,1-3.11-32) traz a conhecida parábola do Filho Pródigo, que talvez devesse ser chamada de “A Parábola do Pai Misericordioso”. Pois o centro da narrativa não é o pecado do filho nem a dureza do irmão mais velho, mas a imensa capacidade de perdão do pai. Um pai que não se fecha na mágoa, mas corre ao encontro do filho, antecipando-se ao pedido de perdão.

Essa mesma misericórdia se reflete na história de Clara, extraída do romance O Vencedor, de Frei Betto. Uma jovem que, como o filho pródigo, se perdeu nas ilusões do mundo e, ao se ver no fundo do poço, decidiu voltar para casa. Mas, como ela mesma reconhece, era tarde demais para exigir qualquer coisa. Restava apenas a esperança de que o amor dos pais superasse a dor que ela causou.

E esse amor, como o do Pai Misericordioso da parábola, não apenas a esperava, mas se manifestava em um gesto de generosidade surpreendente. Não era um simples pano de prato na goiabeira, mas um lençol inteiro, anunciando que o perdão não era tímido nem restrito, mas pleno e sem reservas.

Aqui está a essência do Evangelho: quem muito ama, muito perdoa; quem muito perdoa, não se fecha; e quem não se fecha, sai ao encontro. Deus não nos espera de braços cruzados, mas nos busca incansavelmente. Ele nos antecipa com sua graça, como fez com o filho pródigo e como fez com Clara.

Diante dessa verdade, cabe a nós perguntar: qual tem sido nossa atitude? Somos os filhos que retornam arrependidos? Somos os irmãos mais velhos, endurecidos e incapazes de perdoar? Ou somos aqueles que, como o Pai, estendemos um lençol de misericórdia sobre os erros alheios?

Que esta Quaresma nos leve à conversão profunda, para que, assim como o Pai Misericordioso, possamos viver um amor que não apenas perdoa, mas que se adianta, acolhe e transforma.