A recente fala de Luiza Helena Trajano, empresária de destaque e presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, no B20 Summit Brasil 2024, traz à tona uma reflexão fundamental para o setor empresarial. Em suas palavras, ela destaca que combater a fome e a desigualdade não deve ser uma responsabilidade exclusiva dos governos; ao contrário, deve ser uma causa abraçada pelo setor privado e por toda a sociedade.
A ideia de que as empresas devem participar ativamente da transformação social, propondo soluções que vão além dos muros de seus escritórios, é crucial em tempos de polarização e desigualdade crescente. Trajano exemplifica isso ao mencionar as mudanças no Magazine Luiza, onde a digitalização não foi apenas uma estratégia para adaptação de mercado, mas um processo que buscou, simultaneamente, não comprometer o emprego de seus colaboradores. Ao invés de demitir aqueles que ocupavam funções obsoletas, a empresa optou pelo treinamento e pela realocação, valorizando o capital humano e reconhecendo que cada colaborador pode continuar a contribuir com a organização, ainda que de outra forma.
Esse modelo sugere um compromisso em uma era onde a automação e as transformações tecnológicas rapidamente modificam o mercado de trabalho. Longe de serem obsoletos, esses funcionários, quando treinados e realocados, agregam uma enorme capacidade produtiva e adaptativa. A fala de Trajano revela um entendimento de que o papel do empresário transcende a geração de lucro; envolve o cuidado e o desenvolvimento das pessoas e, consequentemente, da sociedade.
Ela nos convida a questionar o papel das empresas no Brasil: devem apenas satisfazer o desejo do consumidor por preços baixos e entregas rápidas, ou deveriam também promover uma cultura de responsabilidade e solidariedade, onde o capital humano é valorizado? Para Trajano, a resposta é clara: cabe ao setor privado, especialmente em um país marcado pela desigualdade, contribuir diretamente para a criação de oportunidades e combater o desemprego estrutural.
Este ponto de vista defende que empresas, principalmente as de grande porte, adotem uma postura humanitária frente às emergências sociais. A fome, que é um dos maiores flagelos nacionais, não pode ser combatida isoladamente por políticas públicas; ela requer um compromisso ativo da iniciativa privada em propor soluções que vão além da filantropia. Isso inclui salários justos, condições de trabalho dignas e, principalmente, a geração de valor agregado por meio de educação e qualificação profissional.
Ao defender que “não deve haver desemprego” e que a digitalização não precisa ser sinônimo de exclusão, Trajano aponta um caminho importante para o empresariado brasileiro. A modernização empresarial, segundo essa perspectiva, deve incluir um olhar social, adaptando-se às exigências do mercado sem abandonar a responsabilidade para com seus trabalhadores. É uma visão que fortalece a ideia de um capitalismo consciente, onde a busca pelo lucro não exclui a preocupação com o bem-estar coletivo.
O evento B20 Summit Brasil 2024, onde Trajano expressou essas ideias, mostrou que o setor privado está cada vez mais consciente de que as questões sociais e ambientais não são demandas abstratas, mas fatores essenciais para a sustentabilidade e a inovação. A assinatura de um documento com recomendações ao governo brasileiro por parte dos empresários participantes demonstra uma crescente disposição para o diálogo e para a ação coordenada com o setor público.
Em última análise, a fala de Luiza Helena Trajano sinaliza um novo patamar de compromisso empresarial: um em que lucro e responsabilidade social caminham lado a lado, com foco no desenvolvimento humano e na redução das desigualdades. É uma postura que, se amplamente adotada, pode transformar a realidade social e econômica do Brasil, oferecendo ao país um modelo de progresso que não deixa ninguém para trás. Que este seja um chamado à ação para todos os que acreditam que um mundo melhor se constrói em conjunto, e que o setor privado, assim como cada cidadão, tem um papel vital nessa jornada.