Quando Machado de Assis escreveu sobre pessoas que choram pelos espinhos das rosas e outras que sorriem por encontrar rosas nos espinhos, ele nos deixou uma lição atemporal sobre perspectivas de vida. Esta reflexão se torna ainda mais significativa ao recordar os eventos históricos de 1989.
Em 9 de novembro de 1989, há exatos 35 anos, o mundo testemunhou a queda do Muro de Berlim. Construído em 13 de agosto de 1961 pela Alemanha Oriental, o muro separava a Berlim Ocidental (não comunista) da Berlim Oriental. Sua queda foi o prenúncio da reunificação alemã, que se concretizou menos de um ano depois, em 3 de outubro de 1990, encerrando uma divisão que durou 41 anos após a Segunda Guerra Mundial. Aquele momento histórico mostrou ao mundo que, quando as pessoas se unem por um ideal, nenhuma barreira pode resistir à força de sua vontade.
Por falar em lutas e sonhos, não posso deixar de mencionar Carlos Prestes, o “Cavaleiro da Esperança”. Um detalhe tocante de sua vida, revelado por sua filha Anita Prestes, era seu amor por rosas amarelas, que cultivava mesmo durante os períodos de clandestinidade. Essa característica tão humana mostrava como, mesmo nos momentos mais sombrios, ele mantinha viva a esperança. Prestes, que nos deixou em março de 1990, legou à história brasileira a certeza de que, como as rosas que tanto amava, os sonhos e utopias podem florescer mesmo em tempos difíceis.
Enquanto o mundo assistia à queda do muro, o Brasil vivia seu próprio momento histórico. Em 1989, aconteciam as primeiras eleições presidenciais diretas desde 1960. Luiz Inácio Lula da Silva, representando uma coligação liderada pelo Partido dos Trabalhadores, chegou ao segundo turno, enfrentando Fernando Collor de Mello, da coligação encabeçada pelo PRN. Foram tempos de renovação da esperança para muitos brasileiros, que viam na figura de Lula a possibilidade de mudanças profundas no país.
Naquele mesmo ano, tive a oportunidade de presenciar um momento marcante da história brasileira. No comício realizado na Candelária, no Rio de Janeiro, em meio a bandeiras vermelhas e à energia contagiante da multidão, presenciei um discurso inspirador de Prestes. Ali, mesmo diante de tantas adversidades, ele transmitiu uma lição de coragem e fé no amanhã, reiterando a importância de continuarmos lutando por um futuro mais justo.
Descobri, anos depois, que as rosas amarelas eram as preferidas de Prestes. Anita, sua filha, contou que, mesmo vivendo na clandestinidade, ele sempre cultivava essas flores onde quer que estivesse. Esse simples gesto, em meio a tantas dificuldades, simboliza a persistência de sonhos e ideais que resistem ao tempo. Prestes nos deixou mais do que memórias: deixou raízes profundas na história do Brasil, com pétalas e espinhos que continuam vivos na memória do povo.
A história nos mostra que não existem apenas vitórias ou derrotas absolutas. Como um jardim, a vida política e social tem suas rosas e seus espinhos, seus dias de sol e de chuva. O importante é manter viva a capacidade de sonhar e lutar por um futuro melhor. Assim como Prestes cultivava suas rosas amarelas mesmo em tempos sombrios, somos chamados a cultivar nossos sonhos, mesmo quando o caminho parece difícil.
A queda do Muro de Berlim nos ensinou que barreiras, por mais sólidas que pareçam, não são intransponíveis diante da união e da determinação de um povo. Como as rosas de Prestes, nossos sonhos continuam a florescer, renovando-se a cada estação e lembrando-nos de que, mesmo entre os espinhos, há sempre espaço para o nascimento de novas esperanças.