Política e Resenha

Artigo – Saudade: A Presença que Habita a Ausência (Padre Carlos)

 

 

Hoje é o Dia da Saudade. Mas a verdade é que saudade não cabe em calendários. Ela surge como uma visita inesperada: às vezes num aroma que atravessa a janela, numa melodia esquecida em um playlist antigo, ou no silêncio de um quarto que já foi barulho de risos. Saudade é a arte de carregar o passado sem peso, mas com gratidão. E se há algo que ela nos ensina, é que sentir falta não é um luto — é uma celebração discreta de tudo que nos fez sentir vivos.

A Doce Paradoxo da Saudade

Há quem diga que saudade dói. E dói, sim. Mas sua dor não é a de uma ferida aberta; é a de um abraço apertado que já se foi. Ela existe porque um dia existiu algo maior que a ausência: o afeto. Saudamos a saudade como sinal de que vivemos histórias dignas de serem lembradas. Cada “saudade” carrega um fragmento de felicidade: a juventude que se esvaiu em tardes sem relógio, os amigos que se tornaram estrelas distantes no céu da rotina, os amores que nos ensinaram a dizer “eu te amo” em mil línguas diferentes. Se a saudade existe, é porque houve luz — e é essa luz que ainda nos aquece, mesmo quando as fontes originais já estão distantes.

Aproveite a Saudade Para Não Ter Saudade

A ironia mais bela da saudade é que ela nos convida a agir agora. Enquanto escrevo, penso em quantas vezes adiamos o “eu te amo”, o “obrigado”, o “como você está?”, convencidos de que há um amanhã infinito pela frente. A saudade, porém, é uma mestra urgente: ela sussurra que o tempo é um ladrão elegante, que nos rouba momentos sem aviso. Por que não transformar a saudade futura em afeto presente? Mande a mensagem, faça a ligação, marque o café. Aproveite que as pessoas estão aqui — respirando, sorrindo, existindo — para que a falta não precise ser maior que a presença.

A Ausência que se Faz Presente

Saudade é, acima de tudo, a prova de que o amor não morre. Ele apenas se transfigura. Quem partiu, quem se afastou, quem segue em outros caminhos, permanece vivo em nós através da memória afetiva. É como se a vida nos dissesse: “Nada se perde, tudo se transforma em história”. A saudade, então, não é um vazio — é um altar invisível onde guardamos o que mais importou. Ela nos lembra que os laços verdadeiros transcendem distâncias, tempo e até a morte. Enquanto sentimos falta, eles continuam aqui, moldando quem somos.

Conclusão: O Amanhã é Feito de Agoras

Neste Dia da Saudade, propago um manifesto simples: deixemos que a saudade não seja só um suspiro pelo passado, mas um impulso para o futuro. Celebre as cicatrizes afetivas que você carrega, mas não se esqueça de semear novas memórias com quem ainda está ao seu lado. Afinal, a vida é um constante exercício de equilíbrio entre o que foi e o que pode ser. E se há algo que a saudade nos grita, em seu silêncio peculiar, é isto: ame hoje, como se não houvesse amanhã. Porque, no fim das contas, o melhor antídoto contra a falta é o amor que ainda podemos dar.

Enquanto houver saudade, haverá esperança. Porque saudade é, no fundo, um amor que se recusa a dizer adeus.