A convenção que oficializou a candidatura de Geraldo Jr. a prefeito de Salvador deveria ter sido uma exibição triunfal de unidade dentro da base aliada do governador Jerônimo Rodrigues. Em vez disso, o evento expôs as fissuras e fragilidades que permeiam a aliança política que sustenta o atual governo. O desafio de unificar a esquerda em torno de uma candidatura sem DNA petista revela a complexidade e os dilemas enfrentados pelo PT na Bahia.
Geraldo Jr., vice-governador e agora candidato a prefeito, carrega o peso de um histórico político que não se alinha perfeitamente com a trajetória petista. Esta desconexão é um obstáculo significativo na tarefa de aglutinar as diversas forças da esquerda. A decisão de partidos como PSD e PSB de realizarem suas convenções de forma separada é um sintoma claro dessa dificuldade. Em contraste, o prefeito Bruno Reis conseguiu reunir seus apoiadores em uma convenção conjunta, demonstrando uma coesão que falta à candidatura de Geraldo Jr.
A ausência inicial do ministro da Casa Civil, Rui Costa, na convenção de Geraldo Jr., seguida por sua aparição de última hora, simboliza as contradições e incertezas que marcam essa campanha. A tentativa de Rui Costa de reforçar a imagem de unidade ao aparecer “de surpresa” não conseguiu dissipar a percepção de fragilidade e descontentamento dentro da base aliada. Esse gesto tardio foi um esforço para salvar as aparências, mas deixou evidente a relutância e o desconforto em torno da candidatura.
Jerônimo Rodrigues, em seu discurso, expressou um compromisso ambíguo com a candidatura de Geraldo Jr. Ao mesmo tempo em que enfatizou a importância de unificar a base, ele colocou sobre os ombros de Geraldo Jr. a responsabilidade de demonstrar viabilidade eleitoral. Esta postura ressalta a falta de confiança plena no candidato e a percepção de que a escolha de Geraldo Jr. foi mais uma imposição do que um consenso natural.
A candidatura de Geraldo Jr. enfrenta, portanto, um caminho árduo. O desafio de vestir a camisa vermelha do PT e atrair o apoio de uma base que não o vê como um de seus próprios é monumental. A política exige, frequentemente, a habilidade de transcender passados recentes e de se adaptar a novas realidades, mas a candidatura de Geraldo Jr. está sob o escrutínio constante de uma base que desconfia de suas intenções e capacidades.
A fragilidade da aliança em torno de Geraldo Jr. não é apenas um problema para a sua campanha, mas um reflexo das tensões internas e das disputas de poder que permeiam o PT e seus aliados. A capacidade de Jerônimo Rodrigues e do PT de superar essas divisões e construir uma campanha coesa será crucial para o sucesso eleitoral em Salvador. A verdadeira unidade não pode ser apenas proclamada em discursos, mas deve ser construída através de ações e compromissos genuínos.
Enquanto isso, a oposição, representada por Bruno Reis, observa e se prepara para explorar cada fraqueza exposta pela candidatura de Geraldo Jr. A política, como sempre, é um jogo de forças e estratégias, e a fragilidade aparente da aliança petista pode ser um fator decisivo nas próximas eleições. O PT, se quiser manter sua influência e relevância, terá que demonstrar uma habilidade política excepcional para navegar por essas águas turbulentas e garantir que a candidatura de Geraldo Jr. não seja apenas mais uma tentativa fracassada de unificação, mas um verdadeiro movimento em direção à vitória.