Os dias 24 e 25 de janeiro de 2025 entrarão para a história do sindicalismo rural brasileiro. Em Curitiba, representantes das Federações Estaduais dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (FETAGs), filiadas à CONTAG e à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), tomaram uma decisão unânime e simbólica: indicaram Vânia Marques Pinto, atual Secretária de Política Agrícola da CONTAG, como candidata à presidência da entidade. Não se trata apenas de uma mudança de liderança, mas de um marco na trajetória de uma organização que há décadas defende a agricultura familiar, a reforma agrária e a justiça social no campo. A escolha de Vânia representa o fortalecimento do protagonismo feminino em um espaço historicamente masculinizado e sinaliza um novo capítulo para o Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR).
Um Sinal de Mudança na Estrutura Sindical
A nomeação de Vânia Marques Pinto não é um acaso. Ela surge em um contexto de crescentes desafios para a agricultura familiar: pressões do agronegócio, mudanças climáticas, disputas por terra e água, e a urgência de políticas públicas que garantam a sobrevivência de milhões de famílias no campo. Sua trajetória como Secretária de Política Agrícola da CONTAG revela uma liderança técnica e combativa, alinhada com as pautas que hoje são centrais para o movimento, como agroecologia, soberania alimentar e equidade de gênero.
A unanimidade em torno de seu nome reflete não apenas confiança em sua capacidade de gestão, mas também um reconhecimento tácito: a luta sindical rural precisa de novas vozes e perspectivas. Em um país onde as mulheres são responsáveis por 40% da produção agrícola familiar, mas ainda enfrentam invisibilidade e desigualdade, a ascensão de uma mulher à presidência da maior organização do gênero na América Latina é um ato político revolucionário.
A CONTAG do Futuro: Agroecologia, Clima e Inclusão
O encontro em Curitiba não se limitou à indicação de Vânia. Foi um espaço de debates profundos sobre os rumos da CONTAG e do MSTTR. Os participantes reafirmaram compromissos históricos, como a reforma agrária e o combate à grilagem de terras, mas também apontaram para urgências contemporâneas. A crise climática, por exemplo, exige que o movimento sindual incorpore definitivamente a agroecologia como eixo estratégico — não apenas como alternativa produtiva, mas como projeto de sociedade.
Além disso, o acesso à água potável e à terra produtiva foi destacado como direito fundamental, em um país onde conflitos por recursos naturais seguem custando vidas. A valorização das mulheres e dos jovens na sucessão rural também ganhou destaque. Afinal, sem políticas que combatam o êxodo juvenil e promovam a equidade de gênero, o campo brasileiro perderá não apenas mão de obra, mas também sua identidade cultural e sua capacidade de inovação.
Unidade Sindical em Tempos de Divisão
Em um momento político polarizado, o fortalecimento da unidade interna na CONTAG e a cooperação com centrais sindicais como a CTB e a CUT foram temas centrais. A mensagem é clara: fragmentação é luxo que o movimento não pode permitir. A conjuntura exige um sindicalismo robusto, capaz de dialogar com o Estado sem abrir mão de sua autonomia, e de pressionar por avanços sem recuar em suas bandeiras históricas.
O apoio das centrais sindicais é vital nesse processo, pois amplifica a voz do campo em esferas nacionais e internacionais. A CTB, por exemplo, tem papel estratégico na articulação de pautas comuns entre trabalhadores urbanos e rurais, reforçando a ideia de que justiça social não se faz sem incluir quem produz alimento e preserva biomas.