A reunião realizada em Salvador, em 13 de fevereiro de 2025, entre lideranças de Vitória da Conquista e o Governo do Estado, foi mais que uma agenda técnica: foi um espelho da maturidade política que a cidade precisa para transcender velhas disputas e abraçar seu potencial. Enquanto secretários, deputados e representantes da sociedade civil debatiam projetos, o que estava em jogo não eram apenas propostas, mas a capacidade de transformar diálogos em ações capazes de alterar o destino de uma região.
No centro das discussões, o secretário de Turismo, Maurício Bacelar, trouxe à tona uma realidade incômoda: a crise na malha aérea, que há anos isola o Sudoeste baiano, exige mais do que diagnósticos — exige coragem para investir. Mediada por Jônatan Meireles, sua fala franca expôs a urgência de conectar Conquista ao mundo, não apenas por aviões, mas por políticas que transformem o turismo em alavanca econômica. Não se trata de um pedido, mas de um direito de quem vive em uma das cidades mais estratégicas do interior.
Coube ao secretário de Relações Institucionais, Adolpho Loyola, equilibrar as tensões. Ao ouvir vozes díspares, desde entidades empresariais até movimentos sociais, ele reiterou o recado do governador Jerônimo Rodrigues: “A disputa eleitoral já passou”. A frase, mais que um slogan, é um desafio. Se o governo estadual quer unir Bahia, precisa começar por quem nunca aceitou ser tratado como “interior de segundo escalão”. E Vitória da Conquista, com sua força política e econômica, não se contentará com migalhas.
O debate sobre infraestrutura revelou avanços e contradições. A ViaBahia, legado importante, ainda é um projeto inacabado: a extensão temporária do contrato até março de 2025 pressiona por soluções definitivas. A proposta de viadutos financiados por emendas parlamentares, embora bem-vinda, não pode ser um paliativo para ausência de planejamento estadual. Por outro lado, iniciativas como o Centro de Convenções, a retomada das obras da Barragem do Catolé e a promessa de revitalizar o antigo aeroporto mostram que é possível conciliar desenvolvimento e sensibilidade histórica. Basta vontade política.
Mas talvez o tema mais simbólico tenha sido a formalização da região metropolitana. Com 37 municípios e mais de 1 milhão de habitantes, essa integração — defendida com vigor pelo presidente da Câmara, Ivan Cordeiro, e em tramitação na Assembleia Legislativa — é um passo para superar o isolamento que emperra o crescimento. Não se trata apenas de dividir recursos, mas de construir uma identidade comum. Afinal, como lembraram os deputados Fabrício Falcão (PCdoB) e Tiago Correia (PSDB), unidos em um raro momento de convergência partidária, “o Sudoeste só será forte se agir como coletivo”. Essa união, reforçada por entidades como a OAB e o Movimento Duplica Sudoeste, prova que a cidade sabe mobilizar-se quando o objetivo transcende interesses individuais.
Ainda assim, é preciso cautela. Celebrar a união não significa ignorar prazos. Acreditar no diálogo não dispensa exigir transparência. Vitória da Conquista deu um passo importante, mas o futuro dependerá de métricas claras: quando serão concluídas as obras do aeroporto? Que cronograma definirá a região metropolitana? Como evitar que projetos como a Barragem do Catolé repitam atrasos crônicos?
O encontro em Salvador mostrou que há disposição para mudar. Resta saber se haverá compromisso para cumprir. A cidade, que já foi pioneira em educação e saúde, não pode se contentar com promessas. Que este momento seja lembrado não como um ápice, mas como o início de uma era em que planejamento e ação andem de mãos dadas. O povo conquistense, afinal, merece mais que discursos. Merece um futuro tão grandioso quanto suas próprias lutas.
(Padre Carlos)